«Que o teu filho viva amanhã no mundo dos teus sonhos»
Amílcar Cabral, Outubro de 1944

postal

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Bankada Andorinha II


De recordar que as bankadas são estruturas de organização informal, possuindo no entanto uma direcção eleita e estruturada – sendo de realçar que cada bankada tem mais elementos (existem listas nominais no dossier).
Estas bankadas são constituídas por jovens estudantes de diferentes escolas e de diferentes níveis de ensino. Os elementos mais velhos são personalidades influentes na comunidade destes jovens – que ficam com o título de “Pais da bankada”. Há também jovens que se destacam pelo seu dinamismo no bairro – até por pertencerem a outras associações – e que ficam com o cargo de “animadores”.
Um outro factor de organização, é o facto de se quotizarem, nomeadamente para poderem comprar velas para as reuniões e/ou saldo para um telemóvel para poderem participar no programa radiofónico Andorinha.
Uma regra comum a todos é da bankada reunir-se apenas podendo utilizar a Língua Portuguesa. Há bankadas que estenderam o uso da Língua Portuguesa a outros espaços e ocasiões, nomeadamente quando elementos da bankada se encontram na rua – com a penalidade de uma multa pecuniária!
Por último, resta referir que os secretários, ao elaborarem as actas das respectivas reuniões, treinam a escrita da Língua Portuguesa.

Na sequência desta fase, as bankadas decidiram que seria necessário a existência de uma bankada central para poder dar continuidade a esta dinâmica e para apoiarem as bankadas existentes. Decidiram que a bankada central Andorinha deveria ser constituída pelos presidentes de cada bankada e que teriam sede no Centro de Desenvolvimento Educativo de Canchungo. Em Setembro de 2008, ficou assim constituída:
 Bankada Central Andorinha – Júlio Mendes Ninte (Presidente), Eduardo Gomes (Vice-Presidente), Paulino Victor Pereira (Secretário), Martinho Inácio Alves (Vice-Secretário), Julaica Baticã Ferreira (Financeira), Quintino da Silva (Porta-Voz), Clemente Mendes (Vice-Porta-Voz), Josimar Gomes (Responsável Cultura e Desporto), Pedro Mendes (Vice-Responsável Cultura e Desporto).

domingo, 29 de novembro de 2009

Resenha Histórica do Povoamento


A Guiné-Bissau compõe-se de uma zona costeira e de um interior, ambos povoados por mais de uma dezena de grupos étnicos com muitas variantes locais e com particularidades culturais e linguísticas por vezes acentuadas. [...]
O Norte, o Noroeste, o Sul e parcialmente o Leste da Guiné-Bissau, considerados zonas costeiras, são povoados por vários grupos étnicos e variantes do mesmo etnos, sendo alguns deles autóctones. [...]
Para além dos grupos étnicos já referidos, o litoral da Guiné-Bissau é povoado na sua totalidade por dezasseis grupos étnicos, entre os quais Balantas, Manjacos, Pepéis, Mancanhas, Fulas, Cobianas, Bijagós e outros [...]
Em relação aos Manjacos e Mancanhas, considerados população autóctone da Guiné-Bissau e mais concretamente do território situado entre os rios Cacheu e Mansoa, Teixeira da Mota escreveu que já no séc. XV ocupavam este território. Apesar de não ser uma data comprovada por outras fontes, a história oral reza que deste tempos muito antigos eles viviam neste território. Existe, de facto, um forte enraizamento de todos estes grupos na zona costeira, tanto no território que é hoje pertença do Senegal como no que restou a favor da Guiné-Bissau na sequência da última delimitação de fronteiras entre Portugal e França que, embora concluída em 1905, conheceu algumas rectificações em 1930-1931. [...]
A zona costeira é, desde há longo tempo, uma zona de confluência de muitos povos e culturas. Ela encontra-se hoje fortemente povoada sobretudo por Balantas, Fulas, Manjacos, Pepéis e Mancanhas, enfim, por grupos que representam a população maioritária do país, constituindo no seu todo cerca de 71% do total da população recenseada e com a seguinte repartição: Fulas (25,4%), Balantas (24,6%), Manjacos (9,24%), Pepéis (9,01%), Mancanhas (3,54%). [...]
[“Subsídios para o Estudo do Movimento Migratório na Guiné-Bissau” Fernando Leonardo Cardoso, Soronda – Revista de Estudos Guineenses, Nova Série nº 3, Janeiro 2002, p. 29-49.]

sábado, 28 de novembro de 2009

Diário XI


«Como já deixara o aviso, acesso à Internet apenas quando estou em Bissau – existem dois ou três cybercafés. Mas a experiência foi ainda pior do que poderia imaginar. Com uma senha de uma hora a maior parte das vezes revelou-se impraticável: é lento lento lento, tão lento, com a agravante de perder com frequência a linha, não consigo realizar qualquer operação, como seja a de enviar um simples email … ao longo desse hora – têm que conseguir imaginar que cada clique que se tem de realizar num daqueles endereços com, por exemplo, banner publicitários, tem que se esperar cinco a dez minutos que aconteça a operação; e se tentamos avançar depressa demais, acontece que encrava bloqueia; isto quando não perde a linha e tem que se recomeçar tudo de novo! Já me aconteceu estar mais de meia hora para conseguir chegar ao ponto de escrever um email e quando estou à espera que a operação “enviar” resulte, falha a linha e perde-se tudo! Isso de uma Sociedade da Informação à escala Mundial, democrática, acessível a todos, é uma treta!» [15.10.2006]

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Bankada Andorinha





Na sequência da primeira emissão do programa radiofónico Andorinha, fomos contactados por diversos jovens, sobretudo estudantes na cidade de Canchungo, que não só elogiavam esta iniciativa de um espaço de promoção da Língua Portuguesa e da Cultura em Língua Portuguesa, como manifestavam a vontade de apoiarem e solicitavam formação / aulas.
Para lidarmos com esta situação, convocamos uma reunião a 3 de Julho de 2008 com todos os interessados e pusemos em discussão como se poderia realizar esta ligação. Dos presentes surgiu a ideia de se organizarem em bankada*, com o objectivo sobretudo “de praticarem a oralidade e ultrapassarem o receio de falarem em português”!
De imediato, este grupo inicial constituído por jovens sobretudo de diferentes bairros da cidade de Canchungo e de tabankas próximas, iniciaram um processo de constituição de bankadas e foi organizado um périplo de visitas para encorajar e consolidar estes processos em cada local. Assim, a 16 de Julho visitamos um grupo em Wambo, a 23 de Julho, um grupo em Tchada, a 30 de Julho, um grupo na Avenida Titina Silla, a 6 de Agosto, um grupo no quartel do 2º Batalhão de Infantaria “Saco Vaz”, a 13 de Agosto, um grupo na tabanka de Caroncã, a 20 de Agosto, um grupo na tabanka de Cajegute (no sector de Caió), e a 28 de Agosto, um grupo na tabanka de Catchobar.
Estas iniciativas deram origem às seguintes bankadas Andorinha:

 Bankada Andorinha de Cajegute – Regina Upá (Presidente), Julião Mendes (Vice-Presidente), Nelson Mendes (Secretário), Emiliano Gomes (Tesoureiro), Amarante Upá (Porta-Voz), Enque Bajulã (Delegado), Pedro Mendes (Orientador).
 Bankada Andorinha de Betame – Raimundo Mendes (Pai), Eduardo Gomes (Presidente), Cristiano Lopes (Vice-Presidente), Armando Mendes (Porta-Voz), Tidjane Balde (Financeiro), Ludimila da Costa (Secretária), Francelino Mendes (Vice-Secretário).
 Bankada Andorinha Avenida Titina Silla – Ausa Pina Mango (Presidente), Júlio Mendes Ninte (Vice-Presidente), Usta Pina Mango (Secretária), Julaica Baticã Ferreira (Tesoureira), Maria Alice da Silva (Animadora).
 Bankada Andorinha de Wambo – Martinho Inácio Alves (Presidente), Fernando Apio Gomes (Vice-Presidente), Egas Mendes Gomes (Secretário), Ivan Lima (Vice-Secretário), Nando (Chefe de Desporto), Maira Ié (Financeira), Mamadu Mané (Porta-Voz)
 Bankada Andorinha de Quartel “Saco Vaz” – Quintino da Silva (Presidente), Ernesto Aumil (Vice-Presidente), Domingos Augusto Virgílio (Secretário), Pedro Mura N’Djale (Conselheiro), Paulo Midana Bessunha (Fiscal), Amâncio Manga (Porta-Voz), Olivio da Silva (Responsável de Desporto), Carlos Caetano (Vice-Responsável de Desporto), Malam Sanô (Tesoureiro).
 Bankada Andorinha de Catchobar – Paulino Victor Pereira (Presidente), Vladmir José Vaz (Vice-Presidente), Rosete Ulimato Mendes (Secretária), Matcho Vaz (Vice-Secretário), Júlio Mendes (Financeiro), Denilson Mendes (Vice-Financeiro), Jampier Mendes (Porta-Voz), Domingos Gomes (Vice-Porta-Voz), Aristides Pereira (Orientador), Gastão Gomes (Vice-Orientador), Iafai (Pai), Preta Vaz (Responsável Higiene), Gil Vaz (Responsável Disciplina), Luke Mendes (Responsável Desporto).
 Bankada Andorinha Umé Alil de Canhobe – Francisco Gomes (Presidente), Upá Mendes (Vice-Presidente), Idó Ucalculaco (Secretário), Marculino Mancat (Adjunto-Secretário), Sãozinha da Costa (Animadora), Teresa Bassa (Financeira), Valentim A. da Costa (Pai da bancada).
[*Bankada é um grupo informal mas estruturado, sobretudo de jovens, que se juntam num local na rua, para ouvirem rádio – neste caso, o programa Andorinha e para praticarem a oralidade em Língua Portuguesa.]

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A poesia na Guiné-Bissau


A poesia foi a primeira e, durante muito tempo, a única forma de expressão literária contemporânea da Guiné-Bissau. Ela surge nos anos 1940 do século XX como poesia de combate, incitando à luta de libertação. Vasco Cabral, António Baticã Ferreira e Amilcar Cabral fazem parte desta geração de poetas independistas.
Com a independência do país, surge uma vaga de jovens poetas, entre os quais se destacam Agnelo Regalla, António Soares Lopes (Tony Tcheca), José Carlos Schwarz, Hélder Proença, Francisco Conduto de Pina, Félix Sigá, cujas obras impregnadas ainda de espírito revolucionário, manifestam um caráter social. O colonialismo, a escravatura e a repressão são temas desses autores que, no pós- independência imediato, apelam para a construção da Nação e invocam a liberdade.
O desencanto do pós-independência fez com que a euforia revolucionária cedesse lugar à uma poesia mais pessoal, intimista, internacional, com utilização de léxico inglês, e com a deslocamento dos temas Povo-Nação para o Indivíduo. Entre os seus autores encontram-se: Hélder Proença, o ex-pós-independista Tony Tcheca, Félix Sigá, Carlos Vieira, Odete Semedo. Leia-se trecho de “Batucada na noite”, de Tcheka: “ ... aqui há funky/há merengada/ e antilhesas na madrugada”.
Embora o português seja a língua que prevalesça na poesia guineense, o recurso ao crioulo é cada vez mais freqüente, quer pela escrita em crioulo propriamente, quer pela utilização de termos e expressões crioulas em textos em português.

www.sibila.com.br

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Diário X


«Bissau é uma cidade capital de contrastes: onde convive a pobreza e a opulência. A pobreza e indigência da maior parte da população citadina, que procura vender de tudo um pouco; assediando qualquer branco ou forasteiro, insistentemente oferecendo isso e aquilo – é incómodo este assédio. Opulência de alguns guineenses, que deverão ser políticos, polícias ou militares, e que se passeiam com carros novos e caros, de preferência jipes. A opulência que mais incomoda é a das ONG’s, com os seus jipes e carrinhas todo-o-terreno, últimos modelos, com ar condicionado; Bissau é um mostruário de inúmeras instituições e ong’s, do Banco Mundial aos vários organismos da ONU – Fao, Unicef, UnVolunteers.
Dos políticos fala-se da corrupção e das ausências do presidente Nino Vieira, que se diz estar quase sempre ausente do país – também por medo e insegurança. No dia feriado de comemoração do 33º aniversário da independência, da varanda da Pensão Central vi passar o carro presidencial, que é um jipe enorme e blindado, rodeado por uma forte escolta de diferentes militares e diferentes polícias, com metralhadoras e diverso armamento pesado – o suficiente para se perceber que não é um presidente que se aproxima do seu povo.
Para um país pequeno, com pouco mais do que milhão e meio de habitantes, é desproporcionado o número de militares – que afinal não estão presentes apenas na capital mas em todas as cidades existem quartéis e militares. São como uma classe à parte e superior à restante população, uma vez que fazem questão de ostentar os seus privilégios – como o de passarem à frente em qualquer serviço ou transporte. [Neste momento, enquanto a maior parte dos funcionários do Estado, onde se incluem os professores, têm os seu salários em atraso, isso não acontece a qualquer dos militares]» [15.10.2006]

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Andorinha - programas extra


Ao longo deste ano também aconteceram programas extras devido a questões de calendário: quando o programa ía para o ar num dia em que um acontecimento se impunha, como aconteceu com a inauguração e abertura do Centro de Desenvolvimento Educativo em Canchungo, o Dia de Natal e o primeiro dia do Ano Novo.

 A 4.09.2008, sobre a inauguração e abertura do Centro de Desenvolvimento Educativo em Canchungo, foram descritos as suas valências (biblioteca, sala de informática, fotocopiadora) e foram apresentadas diversas referências bibliográficas, sobretudo na área da Educação. Foram difundidos depoimentos de Victória Mendes, a bibliotecária, Dulcineia Pereira, presidente da CONGAI – Confederação das Organizações não Governamentais e Associações Intervenientes ao Sul do Rio Cacheu, Raimundo Mendes e Maria Alice da Silva, membros de bankadas Andorinha, e Aristides Pereira, professor do Liceu Regional Hô Chi Minh.
 A 25.12.2008, sobre o Natal, com textos sobre a tradição natalícia de Portugal a Timor-Leste.
 A 01.01.2009, no âmbito do Novo Ano, falamos do que foi a presença da Língua Portuguesa no ano que passou e falamos do que perspectivamos para o ano de 2009 em relação à Língua Portuguesa e do que desejamos para o próximo ano de 2009, nomeadamente em relação à Língua Portuguesa, com os seguintes convidados em estúdio:
- Clemente Mendes, da bankada Andorinha de Caroncã e Vice-Porta-Voz da bankada central Andorinha;
- Eduardo Gomes, da presidente da bankada Andorinha de Betame e Vice-Presidente da bankada central Andorinha;
- Júlio Mendes Ninte, vice-presidente da bankada Andorinha da Avenida Titina Silá e Presidente da bankada central Andorinha.
No espaço de linha aberta com os ouvintes, segundo questões ou temas, ouvimos como os nossos ouvintes passaram a Passagem de Ano e o que desejam para o próximo ano de 2009, nomeadamente em relação à Língua Portuguesa.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Bambaran


O bambaran é um pano no qual as mulheres africanas amarram o filho às costas até a criança ter dois ou três anos. Pedir bambaran é o mesmo que pedir filhos. O termo balanta deeh significa simultaneamente ‘dar à luz uma criança’ e ‘carregar uma criança às costas’. [...] Se o destino das crianças é morrer, até as mulheres têm de morrer, já que de uma maneira muito concreta na sociedade balanta não subsistência possível sem criar filhos que cuidem da geração mais velha.
[“Fyere Yaabte: um Movimento Terapêutico de Mulheres na Sociedade Balanta” Inger Callewaert, Soronda – Revista de Estudos Guineenses, nº 20, Jul. 95, p. 33-72]

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Diário IX


«Assinalo a presença de portugueses. Em Bissau, para além da presença dos cooperantes, todos professores do ensino secundário, os residentes dominam os restaurantes ditos de qualidade, por apresentarem a cozinha portuguesa, e um dos maiores supermercados, onde se pode encontrar a maioria dos produtos portugueses de referência. O cônsul português é um homem simpático e acessível e que frequenta a Pensão Central – por exemplo, aos domingos é um dos animadores do encontro de jogadores de xadrez, que apreciam a sombra e beleza da varanda ao fim de tarde.
Nas outras localidades do interior, os portugueses estão presentes em pequenas mercearias, com anexos onde também se pode comer – sempre muito bem, uma mistura de cozinha portuguesa e local. A imagem é a daquelas mercearias vendas tascos que se podiam encontrar nas aldeias em Portugal há alguns anos atrás – e que ainda se encontram mas começam a desaparecer. Parecem-me personagens que saíram há muito tempo de Portugal e que por aqui ficaram ou foram ficando, como que parados no tempo; saíram pobres, pobres se mantiveram e pobres se irão manter! [Também encontrei portugueses e respectivos estabelecimentos assim em Hamburgo, na Alemanha, que é Europa - Comunidade Europeia]» [15.10.2006]

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Andorinha - programas temáticos


Desde o início que nos propusemos realizar programas temáticos, com uma periodicidade mais ou menos mensal, segundo alguns temas inicialmente propostos por nós.
Estes programas foram acontecendo, mais ou menos como o planeáramos, respondendo progressivamente a ideias e solicitações dos próprios ouvintes. É de salientar que estes programas têm a duração alargada de duas horas, contando com os convidados em estúdio e possibilitam uma maior abertura de linha para a participação de ouvintes.

1º a 05.06.2008, com o tema “Ser professor de Língua Portuguesa na Guiné-Bissau”, com os seguintes convidados em estúdio:
- Armando Gomes, professor do Liceu Regional Ho Chi Minh em Canchungo
- Bernardo Gomes, professor e director da Escola EBU Pública de Iniciativa Comunitária de Cabienque
- Fatumata Binta Bá, professora da Escola EBU Pública de Iniciativa Comunitária “Tomás Nanhungue” de Tame
- Paulo Gomes, professor da Escola Prof. Antero Sampaio de Canchungo

2º a 03.07.2008, com o tema “A formação em serviço de docentes em Língua Portuguesa na Região de Cacheu”, com os seguintes convidados em estúdio:
- Bernardo Gomes, professor e director da Escola EBU Pública de Iniciativa Comunitária “Tomás Nanhungue” de Tame
- Carlos Mário Nhaga, professor e técnico da UAP de Canchungo – Pólo de Língua Portuguesa do Instituto Camões em Canchungo
- Maria de Lurdes Évora, professora e directora da Escola ADRA de Canchungo
- Pedro Almeida, técnico-formador da FEC – Fundação Evangelização e Culturas (Lisboa, Portugal)

3º a 21.08.2008, com o tema “A presença da Língua Portuguesa na Comunidade – quem é que fala Português?”, com os seguintes convidados em estúdio:
- Clemente Mendes, da bankada Andorinha em Caroncã
- Eduardo Gomes, da bankada Andorinha em Betame em Canchungo
- Josimar Gomes, da bankada Andorinha em Tchada em Canchungo
- Julaica Baticã Ferreira, da bankada Andorinha em Pindai em Canchungo
- Martinho Alves, da bankada Andorinha em Huambo em Canchungo
- Quintino da Silva, da bankada Andorinha do quartel do 2º Batalhão de Infantaria “Saco Vaz” em Canchungo
- Regina Rosário António Upa, presidente da bankada Andorinha em Cajegute (Caió)

4º a 06.11.2008, com o tema “Os bibliotecários da Região de Cacheu – que contributo para a promoção da Língua Portuguesa”, com os seguintes convidados em estúdio:
- Augusto da Silva, bibliotecário e professor na Escola Prof. Antero Sampaio em Canchungo
- Avenário Gomes, bibliotecário na Escola Jovens Sem Fronteiras em Caió
- Bambi Vasconcelos, bibliotecário e professor na Escola Prof. Antero Sampaio em Canchungo
- Chocola Gomes, bibliotecário na Escola Jovens Sem Fronteiras em Caió
- Etelvino Gomes, bibliotecário na Biblioteca de Cacheu
- Mário Mendes, bibliotecário no Liceu Daniel Brottier em Calquisse
- Vitória Mendes, bibliotecária do Centro de Desenvolvimento Educativo de Canchungo

5º a 11.12.2008, com o tema “Os poetas de nova geração em Língua Portuguesa”, com os seguintes convidados em estúdio:
- Fátima Mancal
- Francisca Romão Gomes
- Luís Óscar Pereira
- Lurdes Mendes Mantenque
- Puliquério João da Costa

6º a 15.01.2009, com o tema “Os Verbos” e contou com o professor Paulo Francisco Gomes e os seus alunos seleccionados de duas turmas da 5ª Classe da Escola Prof. Antero Sampaio: Chaviana da Silva, Iama Mendes, Jorge Fernando Gomes, Paulo Gomes, Barnabé Quintino Manga, Luís Gomes, Mama Sambú e Maria Catarina Mendes.

7º a 12.02.2009, repetindo o tema “Ser professor de Língua Portuguesa na Guiné-Bissau”, com os seguintes convidados em estúdio:
- Domingos Duque Olenca, professor e director da EBU “24 de Setembro” em Cancchungo
- Ernesto Baticã Ferreira, professor e director da Escola 1º de Junho em Canchungo
- Herculano Luizinho Vaz, professor e director do Liceu Regional Hô Chi Minh em Canchungo
- Iaia Mancal, professor e vice-director da Escola Prof. Antero Sampaio em Canchungo
- Susana António Gomes, professora e directora da EBE de Catchobar

8º a 12.03.2009, com o tema “A Língua Portuguesa e a Emigração para Portugal”, com os seguintes convidados em estúdio:
- Dapuar da Costa
- Domingos Mendes
- Francisco Major Mendes
- Mamadi Injai (Wié)
- Mário Danty
- Paulo Nienaber
- Thomas Mendy

domingo, 15 de novembro de 2009

Administração Pública da Guiné


[...] a Administração Pública da Guiné começa a ser efectivamente instalada no território desta ex-colónia no século XIX, e é, dizemos agora, durante esse século que se inicia verdadeiramente a ocupação do território, com a consequente dominação política.
[...] uma análise atenta da história da colonização da Guiné neste século, certamente nos demonstrará o papel que essa Administração exerceu com o objectivo de criar as condições necessárias e suficientes para a integração no sistema político-económico dominante na metrópole colonial das estruturas político-sociais e económicas guineenses.
Tais condições passaram necessariamente pelas campanhas de pacificação levadas a cabo nesse século, nomeadamente as dirigidas por Teixeira Pinto, monetarização da economia, nomeadamente através da instituição do trabalho forçado e da privatização da terra, acções que o novo sistema administrativo teve de desencadear ou de apoiar para poder prosseguir os seus objectivos político-económicos.
Com a instalação deste sistema de administração pública, cujo aperfeiçoamento foi sendo feito a partir da criação da província, um novo período da história colonial é inaugurado, o período colonial, podendo-se então falar, com propriedade, da colónia, político-administrativamente dependente da metrópole, e cuja estrutura económica começa a ser aceleradamente integrada na economia metropolitana.
[“Cacheu, Ponto de Partida Para a Instalação da Administração Colonial na Guiné” Wladimir Brito, “Mansas, Escravos, Grumetes e Gentio – Cacheu na encruzilhada de civilizações”, Actas do Colóquio «Cacheu, Cidade Antiga», realizado em Cacheu, de 22 a 24 de Novembro de 1988, editadas por Carlos Lopes, INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, p. 249-273]

sábado, 14 de novembro de 2009

Diário VIII


«A terceira excursão, já para se deixar uma das equipas no terreno, foi a Bafatá. Levava a expectativa de todos afirmarem ser a cidade mais bonita da Guiné-Bissau. Para se chegar, significa mais uma estrada em quilómetros e quilómetros completamente rebentada – a nossa carrinha é uma Tata, com origem na Índia, de dupla cabine e caixa aberta, longe do conforto que outros todo-o-terreno proporcionam! Com o que deparo é uma mais uma povoação cuja beleza e encanto aparece como um vestígio, que se consegue adivinhar no passado, à mistura com a actual destruição, incúria, desleixo, pobreza!
Em cada deslocação, é também a oportunidade de ver as populações, as gentes da Guiné-Bissau. Porque estão presentes ao longo das estradas, deslocando-se a pé pelas bermas, junto a casas à beira da estrada, nas bolanhas cultivando o arroz. Salta à vista a diversidade de etnias; e, apesar de haver etnias predominantes em determinadas regiões, por todo o lado se misturam. Assim, apesar de serem todos negros, o que ressalta é uma diversidade de cores, pelos diferentes trajos e utensílios.» [15.10.2006]

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Andorinha - Novo Acordo Ortográfico


De 18 de Setembro de 2008 a 29 de Janeiro de 2009, foi realizada uma rubrica sobre o Novo Acordo Ortográfico pela Língua Portuguesa, respondendo a diversas solicitações sobre o tema colocadas pelos ouvintes.
[CASTELEIRO, JOÃO MALHOA; CARREIRA, PEDRO DINIS (2008). “O novo acordo ortográfico. O que vai mudar na grafia do português. Texto Editora, Cacém.]

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Poeta noba gerason!


A MORTE

Morte se és uma coisa que tem olhos
Não ias matar o nosso herói,
Veja o que está acontecendo no nosso País.
Se estava aqui o Amílcar Cabral,
não seria assim o nosso País
um País democrático assim com violências,
Agora o Amílcar Cabral
já não é ninguém.

Francisca Romão Gomes, 5ª Classe, Escaola Prof. Antero Sampaio, 2007-2008, Canchungo

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Uma comunidade em Língua Portuguesa


De um lado, um idioma que nos cria raiz e lugar. Do outro, um idioma que nos faça ser asa e viagem.
Mia Couto, escritor moçambicano

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Diário VII


«A segunda excursão foi a Quinhamel, na margem de um rio ou braço de mar. Mas a paragem foi num resort turístico de franceses ou libaneses, quando a pouca distância haveria algo certamente mais interessante: os guineenses comemoram os seus 33 anos de independência com festa, comes e bebes, batucada e danças.
Continua a ser uma oportunidade de olhar as paisagens por terra. As características são de savana, de arbustos baixos mas densos, pontuado por diversas árvores espaçadas, altas e imponentes. Isto quando não surgem extensos vales de campos alagados de arroz, bolanhas.» [15.10.2006]

domingo, 8 de novembro de 2009

Andorinha - bankada


A 10 de Julho de 2008, iniciamos uma nova rubrica para apresentar notícias da ideia de se formarem grupos informais – as bankadas – para falarem a Língua Portuguesa – ou seja, praticarem a oralidade e ultrapassarem o receio de falarem em português! – que entretanto começaram a surgir em diferentes bairros de Canchungo e também em algumas tabankas, em ligação ao programa radiofónico Andorinha...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Escola Pública de Iniciativa Comunitária


As Escolas Públicas de Iniciativa Comunitária são características sobretudo da Região de Cacheu – são 50 das 119 escolas existentes nos Sectores de Bula, Cacheu, Caió, Calquisse e Canchungo. São escolas de iniciativa comunitária por diversos factores: o principal é que foram construídas pela própria Comunidade onde se inserem, através da respectiva Associação, respondendo a uma necessidade que não era realizada pelas estruturas oficiais regionais e nacionais de Educação. Ao mesmo tempo são escolas públicas porque a mesma Comunidade-Associação, depois de construídas e apetrechadas as salas de aula com as carteiras e quadro negro, as entrega à Direcção Regional de Educação (Ministério da Educação) para que nomeadamente o ensino possa ser reconhecido, bem como o vínculo dos professores efectivos e contratados.
São igualmente escolas de iniciativa comunitária porque a Associação-Comunidade paga um subsídio aos professores, sobretudo a pensar nos professores contratados, que é o que permite que as aulas se iniciem em Outubro – atenuando os constrangimentos que em alguns anos se regista para o Ministério da Educação decretar a abertura oficial do ano lectivo e evitando as greves a que a os professores se vêm obrigados a praticar para verem realizados alguns dos seus direitos salariais! Quando esse subsídio provém do orçamento geral da associação de tabanka, da quotização global dos seus associados, representa um empenho e compromisso de toda a comunidade para com a sua Escola; quando o subsídio provém dos pais que têm alunos na escola poderá pôr em causa o princípio do ensino universal e gratuito consagrado na própria constituição da república mas não deixa de vincar um compromisso da comunidade para viabilizar a sua Escola.

São escolas de iniciativa comunitária porque são apoiadas pelas Associações de tabanka, que após a entrega como escola pública, no início dos anos 2000, ao longo dos anos subsequentes se têm mantido como o principal suporte da Escola . É de salientar que a força destas Associações reside na capacidade de mobilizarem e canalizarem os montantes dos seus associados, não só dos residentes na tabanka mas, pormenor mais importante, também dos denominados “filhos da tabanka”, ou seja, migrantes e emigrantes , que quer estejam nas tabankas vizinhas ou em Canchungo ou em Bissau, ou em Ziguinchor ou Dakar (Senegal), na Gambia, Guiné-Conakry ou Cabo Verde, ou na Europa (Portugal, Espanha, França, Inglaterra), não deixam de pagar as respectivas quotas e assim participarem na definição e apoio das necessidades da sua terra! De notar que os “filhos da tabanka” na Europa, nomeadamente em Portugal, se constituem como associações autónomas, legalizadas como associações locais nos concelhos onde residem maioritariamente, com relações e apoio por parte da ACIME – Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (como são o caso da AFDAC – Associação dos Filhos, Descendentes e Amigos de Canhobe, da ANPRP – Associação dos Naturais de Pelundo Residentes em Portugal, da AENT – Associação dos Emigrantes e Naturais de Tame).
Este esforço e montantes efectuados através destas Associações não só possibilitaram a construção das escolas em cada tabanka, como igualmente de Postos de Saúde (Cabienque, Pelundo, Canhobe), ou disponibilizarem uma descascadora mecânica de arroz (Cabienque), para além de se constituírem parceiros de projectos financiados por outras entidades (UNICEF, Cooperação Francesa, USAid, Action Aid).

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Diário VI


«A primeira excursão foi a Mansoa, uma das localidades onde trabalhamos e onde está uma colega. O que inclui a visita ao seu local de trabalho: a Rádio Sol Mansi, uma rádio local.
Foi a oportunidade de começar a conhecer as estradas. As principais vias são alcatroadas mas melhor seria não o serem: vão abrindo buracos, de diversos diâmetros, que dos mais pequenos a crateras, obrigam a uma condução cansativa, em ziguezagues, procurando evitar os buracos ou, sem alternativa, procurando escolher os melhores para atravessar. Com imensas rectas em savana, é por vezes como que um baile em câmara lenta ver ao longe alguns dos diversos veículos movimentarem-se em ziguezague, na sua condução de procurarem os melhores locais de passagem!» [15.10.2006]

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Andorinha - poesia, texto, conto


No espaço para a cultura em Língua Portuguesa, na componente da poesia, apresentamos autores portugueses (David Mourão Ferreira, Vasco Graça Moura, Miguel Torga), autores guineenses (António Baticã Ferreira, Amílcar Cabral, Eunice Borges, Tony Tcheka), autores da CPLP (Vinicius de Moraes, Odete Costa Semedo, Alda Lara), e autores locais, intitulados poetas de nova geração (Aissatú Mendes, Francisca Romão Gomes, Puliquério João da Costa, Dojuste Francisco Mendes, Roménia Francisco Gomes) – sempre que possível, com poemas declamados pelos próprios autores em gravação.
Na componente de texto, apresentamos António Graça de Abreu (“Diário da Guiné – Lama, Sangue e Água Pura”), Juvenal Cabral (“Memórias e Reflexões”), Caetano Veloso (“Verdade Tropical”), António Carreira (“Vida Social dos Manjacos”).
A partir de 27 de Novembro de 2008 passamos a apresentar as obras que existem à disposição dos ouvintes no Centro de Desenvolvimento Educativo em Canchungo – uma vez que sentimos a frustração de quem não podia aceder a obras que estávamos a revelar!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Toka tchur


CHORO
Jan Muá


"A mim vai na tchoro"
Lá no Canchungo
Et! Batassa
Eh parente
Tam-tam
Eh bombolom...

Eh barro branco da bolanha
Eh máscara cinza

Eh Batassa
Eh irmão
A bó muita mantenha
Eh tripa de vaca
Eh dança
Eh inselência
Eh morto
Eh silêncio
Eh Barsi
Eh irã da morte
Eh vida
Eh vós verdadeiros
Que estais ainda chorando
A parentela
Eh Batassa
Tam-tam...
Am...am...

Jan Muá
Canchungo 1964

______


Este é um poema integrado no gênero da "Etnopoesia"


GLOSSÁRIO

"Choro" -conjunto de rituais celebrados por ocasião do falecimento de uma pessoa na etnia dos povos animistas na Guiné-Bissau
"Batassa": uma das famílias principais entre os manjacos, do grupo brame.
"bombolom": intrumento musical, espécie de tamborim tirado do côncavo do tronco de uma árvore
"inselência": era uma parte dos rituais do choro em que se lembravam os nomes dos falecidos da família, quase uma ladainha
"Barsi" - deus entre os Brames
"bolanha" - várzea para arroz, arrozal
"irã" -demiurgo ou intermediário entre a divindade superior e os humanos entre os povos animistas da Guiné
"mantenha" - saudação, em crioulo
"Canchungo" - cidade da região dos manjacos, conhecida entre os portugueses pelo nome de Teixeira Pinto

[retirado de www.usinadeletras.com.br]

domingo, 1 de novembro de 2009

Diário V


«Visitamos Bissau Velho, junto a um porto pequeno, de onde se vê o mar. Em vestígios nota-se que é um conjunto de edifícios de traça bonita, que deveria ser muito elegante. Mas para além da destruição, provoca novamente aquela sensação de angústia pelo desleixe e completo desmazelo. [Há ruínas por esse Mundo fora que mantêm toda a elegância, por vezes uma maior dignidade] O exemplo mais chocante ou repugnante é aquelas águas pútridas que escorrem de esgotos que rebentaram, sem que ninguém aparentemente se importe!
O porto é demasiado pequeno para a capital de um país costeiro, atlântico, e com a maré baixa, como estava, com uma extensão de lodo, não creio que haja condições para qualquer embarcação entrar – quanto mais os navios que pertencerão a um porto importante. Dakar deverá ser o aglutinador do tráfego marítimo da zona.
E o mar não tem aspecto de qualquer oceano, nem Atlântico, mais parecendo um qualquer curso de águas mansas paradas!» [15.10.2006]