«Que o teu filho viva amanhã no mundo dos teus sonhos»
Amílcar Cabral, Outubro de 1944

postal

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Andorinha no Marão


No dia 17 de Setembro a Andorinha visitou o Agrupamento de Escolas do Marão, a convite da direcção, no âmbito do projecto Andorinha – Promoção da Língua Portuguesa e da Cultura em Língua Portuguesa – um intercâmbio de escolas portuguesas e escolas no sector de Canchungo, Região de Cacheu, Guiné-Bissau.
«O território educativo do Agrupamento Vertical de Escolas do Marão abrange as freguesias de Aboadela, Sanche, Candemil, S. João de Várzea, Ansiães, Bustelo e Gondar do concelho de Amarante. | A Escola E. B. 2 / 3 do Marão, sede do Agrupamento de Escolas, está situada na tangencia de três  freguesias: Sanche, Aboadela e S. João de Várzea.»


Oportunidade para se entregar à directora Ercília Gonçalves Costa uma carta do professor Yofân Sambú, director da Escola Pública de Iniciativa Comunitária “Prof. Henrique Bamba Ferreira” de Canhobe e escola anexa de Teteo.
Foi proporcionada uma visita guiada pelo professor Carlos Alberto Pereira Gomes, coordenador do 1.º Ciclo, às instalações escolares, desde a sala dos professores aos serviços administrativos, passando pelos recintos gimnodesportivos ao refeitório, sem esquecer a biblioteca. Foi na visita a diversas salas de aula que pudemos constatar as melhorias introduzidas pelo plano tecnológico do Ministério de Educação de Portugal – nomeadamente o quadro interactivo.

Da parte da manhã foi realizada uma apresentação perante os alunos do 1.º Ciclo e respectivos professores, com a introdução do professor Carlos Alberto Pereira Gomes e do professor Victor Rui Correia, coordenadores do projecto Andorinha neste estabelecimento de ensino.
Recorrendo-se a uma palete de imagens projectadas num grande ecrã, a apresentação incluiu: um enquadramento geográfico da Guiné-Bissau e da Região de Cacheu; o ambiente das escolas de Canhobe e Teteo – nomeadamente a utilização de quadros de giz pelos professores locais; a diversidade guineense de Canchungo, das habitações aos transportes, mercado e feira, principais culturas (arroz, cajú, mankara) e frutas (papaia, mangu, manfafa, fole), gastronomia; terminando com a arte da panadaria, os penteados femininos e o lúdico – incluindo curtos vídeos de brincadeiras das crianças.


Esta apresentação foi repetida da parte da tarde, com uma introdução apaixonada da directora Ercília Gonçalves Costa, perante os alunos do 2.º e 3.º Ciclos e respectivos professores.
Valeram ainda os contactos informais e a curiosidade demonstrada por todos, de alunos a professores, do bibliotecário ao pessoal não-docente.

Muito muito obrigado pela hospitalidade demonstrada e desejamos ter contribuído para o reforço deste projecto de intercâmbio escolar entre o Marão (Portugal) e Canhobe (Guiné-Bissau).

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Andorinha cita Filomena Embaló

Na continuação da reflexão sobre o uso da Língua Portuguesa na Guiné-Bissau, citamos um texto redigido pela Dr.ª Filomena Embaló para o Associação Contributo [www.didinho.org] – 37 anos depois de proclamada a independência da Guiné-Bissau.
«NÓS E A LÍNGUA PORTUGUESA
Ao assumir a sua independência, a Guiné-Bissau, tal como as outras ex-colónias portuguesas, adotou como idioma oficial a língua lusa. No entanto, o português era na altura falado por uma ínfima percentagem da população, um rico mosaico linguístico-cultural, compreendendo mais de duas dezenas de etnias para uma população total estimada na altura em cerca de um milhão de habitantes.
Coabitando com estas línguas autótonas e desempenhando um papel aglutinador e de língua franca, temos o crioulo guineense (kriol). Língua falada essencialmente nos centros urbanos antes da guerra colonial, com as necessidades da mobilização das populações para as causas da luta, ele chegou às diferentes regiões do país, tornando-se na língua de comunicação das diferentes etnias entre si. Com isso ganhou os galões de língua da unidade nacional ou de língua nacional, ainda durante a luta armada de libertação, podendo até ser considerado como um fator de identidade nacional.
Neste contexto pode-se perguntar por que razão não terá sido o crioulo elevado a língua oficial quando, a 24 de setembro de 1973, a bandeira nacional foi içada nas Colinas de Boé.
Podem ser avançados diferentes considerandos para a não escolha do crioulo como língua oficial, tais como tratar-se de uma língua que não é utilizada na comunicação internacional. Mas o certo é que a escolha tinha como um obstáculo incontornável o facto de o crioulo, por ser uma língua essencialmente oral e sem uma grafía única adotada, não poder desempenhar de imediato o papel de língua oficial, chamada a ser a língua escrita e a língua de ensino. Das línguas presentes no território, apenas o português respondia a esse requisito.
Hoje, embora o crioulo tenha ocupado um lugar mais importante na vida cultural nacional (com uma mais ampla utilização, particularmente a nível literário e radiofónico e ter merecido ser objeto de estudos,  por parte de linguístas nacionais e estrangeiros) continua a ser uma língua sem escrita regulamentada, apesar da existência de uma proposta para unificação da sua ortografia feita pelo Ministério da Educação guineense em 1987. Nesta proposta a ortografia é fonética e com base no alfabeto latino, mas recorrendo a empréstimos do alfabeto internacional para expressar sons do crioulo que não existem na língua portuguesa. A inexistência de uma regulamentação faz com que cada um escreva o crioulo à sua maneira, o mesmo vocábulo aparecendo com diferentes grafias. Nestas circunstâncias, ele continua a não poder assumir as funções exigidas a uma língua oficial e de ensino. A inexistência de uma grafia única é também apontada como um freio ao desenvolvimento da literatura em língua crioula. Quanto às línguas autótonas, línguas maternas da maioria da população guineense, têm também ainda um longo caminho a percorrer para a sua passagem da oralidade à escrita e para se tornarem línguas de ensino.
Em tal contexto, a língua portuguesa, herança colonial certo, mas a melhor de todas no dizer de Amilcar Cabral, para além de ser a língua oficial da Guiné-Bissau é, quer queiramos quer não, a língua que nos dá o acesso ao ensino, à ciência e ao desenvolvimento. Ela deve por isso ser assumida descomplexadamente como uma nossas das línguas nacionais! Já ouvi por várias ocasiões compatriotas nossos dizerem que pouco vale para os guineenses aprenderem a língua portuguesa, uma vez que acabam por ir estudar no estrangeiro, nem sempre num país lusófono. Pura ignorância! O que essas pessoas desconhecem é que a aprendizagem e o domínio de uma língua estruturada, como o é o português, são uma porta aberta para a aprendizagem e o domínio de outras línguas, nomeadamente as línguas românicas, que possuem estruturas idênticas. Para mim esse argumento, que classifico de falacioso, é apenas uma justificação ou uma desculpa de quem tem a consciência de não dominar a língua oficial do seu próprio país e não tem o mínimo interesse em melhorar os seus conhecimentos linguísticos. Uma atitude de puro complexo!
Infelizmente, o ensino da língua portuguesa na Guiné-Bissau, por razões várias, entre as quais a debilidade económica do Estado, sem no entanto deixar de apontar para a que considero fundamental e que é falta de uma real vontade política de se fazer desta língua um fator de desenvolvimento, defronta-se com imensos problemas e limitações. Entre estes, cito apenas alguns que me parecem cruciais. Em primeiro lugar, o fraco nível de formação dos próprios professores, quer do ensino básico, quer do secundário, que não dominando eles mesmos a língua de ensino, tornam-se em elementos multiplicadores de uma "aprendizagem" deficiente da língua portuguesa. Ainda ligada à formação dos docentes, existe a necessidade destes serem preparados para o ensino do português, não como língua materna, mas como língua segunda, na medida em que não se trata da mesma pedagogia de ensino. Outra questão é a falta de bibliotecas/centros de leitura que possam pôr à disposição dos alunos livros e, através da leitura, contribuirem para uma maior familiarização com a língua, seu aprofundamento e um maior gosto pela sua aprendizagem. Por fim, a mentalidade que existe de que "não sendo nossa, a língua portuguesa não deixa falta" ...
O resultado de toda esta complexidade de fatores é que não só os alunos não aprendem corretamente o português, mas também se debatem com imensas dificuldades na aprendizagem das outras disciplinas, devido ao não domínio da língua de ensino. Como consequência, ao sairem da formação liceal, uma boa parte (para não dizer a maioria) dos jovens não dominam a língua portuguesa e têm um fraco nível nas outras matérias. E isso constata-se nos que vão estudar para o estrangeiro, muitos deles sendo obrigados a desistir dos estudos. Por outro lado, não é raro ver estudantes guineenses que mesmo tendo ido para países de língua portuguesa, Portugal e Brasil nomeadamente, arrastam essa deficiêncialinguística até ao fim das suas licenciaturas e até mesmo doutoramentos. E o que é grave, ainda, é que para muitos o português permanece um idioma estrangeiro, que por falta do seu domínio têm vergonha de falar, reforçando assim a engrenagem no sentido da sua desaprendizagem.
É preocupante esta situação e as autoridades educativas deveriam levar a sério o ensino da língua oficial na formação dos recursos humanos da Nação. Para a Guiné-Bissau não é um "luxo" ter-se o domínio do português. É uma necessidade imperiosa para a formação dos seus recursos humanos com vista ao o desenvolvimento económico, social e político, pois é através dessa língua que se acede ao conhecimento, mesmo se mais tarde a formação venha a ser completada no estrangeiro.
Um outro elemento a ter em conta para promoção e preservação da língua portuguesa, é o papel que a Guiné-Bissau pode desempenhar, juntamente com Cabo Verde, na criação de consensos num contexto regional em que dos 15 países da CEDEAO, 5 têm como língua oficial o inglês e 8 o francês.
Encorajo as ONG e associações que trabalham com jovens a darem uma atenção particular a este aspeto da formação da nossa juventude, através da dinamização de atividades que estimulem a aprendizagem do português, como a criação de centros de leitura nos bairros, a realização de pequenos concursos literários, a realização de peças de teatro em língua portuguesa e outras que a imaginação e as condições possam permitir.
A este propósito, para finalizar, gostaria de aqui apresentar um projeto/programa radiofónico emitido desde 2008 na Guiné-Bissau, mais precisamente em Cantchungo, que, indo no sentido do que aqui preconizo, tem como objetivo a promoção da língua portuguesa e da cultura em língua portuguesa, com o fim de sensibilizar os jovens e levá-los a "praticarem a oralidade e ultrapassarem o receio de falarem em português".
Trata-se do programa ANDORINHA na Rádio Comunitária Uler A Baand, promovido por Marcolino Elias Vasconcelos, professor no Liceu Regional Hô Chi Minh, e António Alberto Alves, sociólogo e voluntário. Com uma periodicidade semanal, todas as quintas-feiras entre as 20H30 e 21H30 na frequência de 103 MHz, este programa tem como grupos-alvo professores e alunos de português e pessoas interessadas nesta língua e na cultura em língua portuguesa e tem vindo a despertar um grande interesse no seio da população.
Para mais informações, convidamos a consultarem o site do projeto e a documentação constante nos enlaces que se seguem:
(1) Tal como os meus últimos artigos, este texto obedece ao Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
[A autora nasceu em Angola, filha de pais cabo-verdianos e tem nacionalidade Bissau-Guineense. Formou-se em Ciências Económicas na França e ocupou cargos na Função Pública bissau-guineense, no país e no exterior. Actualmente, além de contribuir para o projeto Didinho.org, trabalha em Paris, na organização intergovernamental União Latina.]

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Andorinha cita Amílcar Cabral

Com a intenção de se lançar uma reflexão e debate sobre o uso da Língua Portuguesa na actual Guiné-Bissau, iniciamos por citar o que Amílcar Cabral escreveu sobre o assunto:
«[...] Devemos combater tudo que seja oportunismo, mesmo na cultura. Por exemplo, há camaradas que pensam que, para ensinar na nossa terra, é fundamental ensinar em crioulo já. Então outros pensam que é melhor ensinar em fula, em mandinga, em balanta. Isso é muito agradável de ouvir; os balantas se ouvirem isso ficam muito contentes, mas agora não é possível. Como é que vamos escrever balanta, agora? Quem é que sabe a fonética do balanta? Ainda não se sabe. É preciso estudar primeiro, mesmo o crioulo. Eu escrevo, por exemplo, n’ca na bai. [N’ca na bai: não vou!] Um outro pode escrever, por exemplo, n’ka na bai. Dá na mesma. Não se pode ensinar assim. Para ensinar uma língua escrita é preciso ter uma maneira certa de a escrever, para que todos a escrevam da mesma maneira, se não é uma confusão do diabo.
Mas muitos camaradas, com sentido oportunista, querem ir para a frente com o crioulo. Nós vamos fazer isso, mas depois de estudarmos bem. Agora a nossa língua para escrever é o português. Por isso é que tudo vale a pena falar-se aqui tanto o português como o crioulo. Não somos mais filhos da nossa terra se falarmos crioulo, isso não é verdade. Mais filho da nossa terra é aquele que cumpre as leis do Partido, as ordens do Partido, para servir bem o nosso povo. Ninguém deve ter complexo porque não sabe balanta, mandinga, papel ou fula ou mancanha. Se souber, melhor, mas se não sabe, tem que fazer com que os outros o entendam, mesmo que for por gestos. [...]
Temos que ter um sentido real da nossa cultura. O português (língua) é uma das melhores coisas que os tugas nos deixaram, porque a língua não é prova de nada mais senão um instrumento para os homens se relacionarem uns com os outros; é um instrumento, um meio para falar, para exprimir as realidades da vida e do mundo. Assim como o homem inventou o rádio para falar à distância, sem falar com a língua, só com sinais, o homem através do tempo do seu desenvolvimento começou a falar, a necessidade de comunicar-se fê-lo começar a falar. Desenvolveu as cordas vocais, etc., até falar. E como a língua depende do ambiente em que se vive, cada povo criou a sua própria língua.
Se repararmos, por exemplo, na gente que vive perto do mar, a sua língua tem muita coisa relacionada com o mar; quem vive no mato, a sua língua tem muita coisa relacionada com as florestas. Um povo que vive no mato, por exemplo, não sabe dizer bote, não conhece o bote, não vive no mar. Por exemplo, na linguagem de certos povos da Europa, as coisas dom mar, da navegação, dizem-se como em português, porque os portugueses viviam junto ao mar. Tudo isso tem a sua razão de ser.
A língua é um instrumento que o homem criou através do trabalho, da luta para comunicar com os outros. E isso deu-lhe uma grande força nova, porque ninguém mais ficou fechado consigo mesmo: passaram a comunicar uns com os outros, homens com homens, sociedades com sociedades, povo com povo, país com país, continente com continente. Que maravilha! Foi o primeiro meio de comunicação natural que houve, a língua. Mas o mundo avançou muito, nós não avançamos muito, tanto como o mundo, e a nossa língua ficou ao nível daquele mundo a que chegámos, que nós vivemos, enquanto o tuga, embora colonialista, vivendo na Europa, a sua língua avançou bastante mais do que a nossa, podendo exprimir verdades concretas, relativas, por exemplo, à ciência. Por exemplo, nós dizemos assim: a Lua é um satélite natural da Terra. Satélite natural, digam isso em balanta, digam em mancanha. É preciso falar muito para o dizer, é possível dizê-lo, mas é preciso falar muito, até fazer compreender que um satélite é uma coisa que gira à volta de outra. Enquanto que em português basta uma palavra. Falando assim, qualquer povo no mundo entende. E a matemática, nós queremos aprender matemática, não é assim? Por exemplo: raiz quadrada de 36. Como é que se diz raiz quadrada em balanta? É preciso dizer a verdade para entendermos bem. Eu digo, por exemplo: a intensidade de uma força é igual à massa vezes aceleração da gravidade. Como é que vamos dizer isso? Como é que se diz aceleração da gravidade na nossa língua? Em crioulo não há; temos que dizer em português.
Mas para a nossa terra avançar, todo o filho da nossa terra, daqui a alguns anos, tem que saber o que é aceleração da gravidade. Não explico isso agora, porque não há tempo, temos muito trabalho. Mas camaradas, amanhã, para avançarmos a sério, não só os dirigentes: todas as crianças de 9 anos de idade têm que saber o que é a aceleração da gravidade. Na Alemanha, por exemplo, todas as crianças sabem isso. Há muita coisa que não podemos dizer na nossa língua, mas há pessoas que querem que ponhamos de lado a língua portuguesa, porque nós somos africanos e não queremos a língua de estrangeiros. Esses querem é avançar a sua cabeça, não é o seu povo que querem fazer avançar. Nós, Partido, se queremos levar para a frente o nosso povo, durante muito tempo ainda, para escrevermos, para avançarmos na ciência, a nossa língua tem que ser o português. E isso é uma honra. É a única coisa que podemos agradecer ao tuga, ao facto de ele nos ter deixado a sua língua, depois de ter roubado tanto da nossa terra. Até um dia em que de facto, tendo estudado profundamente o crioulo, encontrado todas as regras de fonética boas para o crioulo, possamos passar a escrever o crioulo. Mas nós não proibimos ninguém de escrever o crioulo: se alguém quiser escrever o crioulo, se alguém quiser escrever uma carta ao Tchutchu em crioulo, pode escrever. Somente ele, na resposta que lhe mandar, vai escrever de maneira diferente, mas faz-se compreender. Mas para a ciência, o crioulo não serve. Mesmo em balanta, lembro-me de um camarada nosso, que infelizmente morreu, Ongo, nós escrevíamos em português, passávamos para crioulo e ele escrevia em balanta. Porque é possível escrever balanta. Uma pessoa que sabe bastante português é capaz de escrever balanta. Diz, por exemplo, Watna [Watna: vamos] ou, então, n’calossa [N’calossa: eu vou]. Eu sei escrever, mas escrevo à minha maneira; outra pessoa já escreve à sua maneira. Mesmo «djarama» [«Djarama»: obrigado!] em fula pode escrever-se com o d e j, ou pode escrever-se só com j, mas lê-se djarama porque o j no começo da palavra pode ter o valor de dj. Mas temos que arranjar uma regra primeiro. Tem que ser, camaradas, porque temos de tirar o máximo proveito da experiência de outros povos, não só da nossa própria experiência. Mas se quisermos empregara essa experiência para a utilizarmos na nossa terra, temos que utilizar as expressões doutras línguas. Ora se temos se temos uma língua que pode explicar tudo isso, usemo-la, não faz mal nenhum.
Para nós tanto faz usar o português, como o russo, como o francês, como o inglês, desde que nos sirva, como tanto faz usar tractores dos russos, dos ingleses, dos americanos, etc., desde que tomando a nossa independência nos sirva para lavrar a terra. Porque a língua é um instrumento, mas pode acontecer que tenhamos já uma língua que pode servir e que toda a gente entende. Então não vamos pôr toda a gente a aprender o russo, não vale a pena, tanto mais que temos uma língua que é o crioulo, que é parecida com o português. Se nas nossas escolas ensinamos aos nossos alunos como é que o crioulo vem do português e do africano, qualquer pessoa saberá português muito mais depressa. O crioulo prejudica quem aprende português, porque não sabe qual é a ligação que existe entre o português e o crioulo, mas se se conhecer a ligação que há, isso facilita aprender o português. [...]»
“P.A.I.G.C. – Unidade e Luta” Amílcar Cabral, Publicações Nova Aurora, Textos Amílcar Cabral / Nº 2, Lisboa, 1974, p. 246

sábado, 11 de setembro de 2010

Andorinha para Portugal





No final do ano lectivo na Guiné-Bissau, os directores e professores, bem como as Associações de Filhos de... tabanka que apoiam as respectivas Escolas, redigiram cartas de agradecimento e apelando para a continuidade do projecto Andorinha – Promoção da Língua Portuguesa e da Cultura em Língua Portuguesa – um intercâmbio de escolas portuguesas e escolas no sector de Canchungo, Região de Cacheu, Guiné-Bissau.
Ao longo deste ano lectivo de 2009-2010, o projecto teve o seu arranque com o intercâmbio de correspondência escolar entre os alunos, e alguns professores, da Escola EB 2,3 Dr. Joaquim Magalhães de Faro (Portugal) com o Liceu Regional Hô Chi Minh em Canchungo (Guiné-Bissau). De Faro chegaram um conjunto de cartas, os de Canchungo responderam, os de Faro voltaram a escrever e, neste momento, são os Canchungo que ficaram de responder – aguardando por um conjunto de materiais que os alunos e professores portugueses recolheram e que tiveram de ser enviados por intermédio de uma ong portuguesa...
Em Março chegou à Escola Pública de Iniciativa Comunitária “Tomás Nanhungue” de Tame (Guiné-Bissau) a correspondência escolar do Agrupamento de Escolas de Vila Caíz (Portugal), acompanhada por diverso material de apoio. Os alunos e professores de Tame responderam e ficaram a aguardar a resposta de Vila Caíz.
Em Junho chegou à Escola Pública de Iniciativa Comunitária de Cabienque (Guiné-Bissau) a correspondência escolar do Agrupamento de Escolas de Mondim de Bastos (Portugal), acompanhada por generoso material de apoio didáctico-pedagógico. Os alunos e professores esboçaram uma resposta, que irá ser concretizada no início deste ano lectivo – calendarizado na Guiné-Bissau para o início de Outubro.
Em Julho o Agrupamento de Escolas do Marão (Portugal) enviou a correspondência escolar e diverso material de apoio para a Escola Pública de Iniciativa Comunitária “Prof. Henrique Bamba Ferreira” de Canhobe (Guiné-Bissau) – aguardando-se a sua iminente chegada...
É um projecto em construção, tal como o propusemos desde o início, dependendo das iniciativas dos diversos autores e actores, e que terá certamente a sua continuidade no ano lectivo de 2010-2011. Complementarmente, estamos em contacto com outras escolas em Portugal para se alargar o projecto – bem como em Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Brasil, Moçambique, e ainda onde existem comunidades portuguesas, com enfoque especial nos luso-descendentes de 2.ª e 3.ª gerações, que utilizam a Língua Portuguesa com língua segunda (como no Luxemburgo, Alemanha, África do Sul). A ver vamos...
[Quem desejar aderir ao projecto Andorinha – escola, director, professor, aluno, ou qualquer interessado – contacte-nos: andorinha.em.canchungo@gmail.com. São bem-vindos! O princípio é simples – todavia de enorme impacto nos alunos guineenses e respectiva comunidade educativa – e o compromisso é também simples: basta escreverem e enviarem cartas.]