«Que o teu filho viva amanhã no mundo dos teus sonhos»
Amílcar Cabral, Outubro de 1944

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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Guiné na Corson!


Car@s amig@s
Parti para Canchungo, Guiné-Bissau e este espaço ficará em pausa, porque deixarei de ter acesso à Internet. A vossa compreensão...
De quando em quando – muito raramente! – poderei espreitar ao endereço email e estarei sempre contactável neste número: 00 245 6726963

Projecto Andorinha


Projecto Andorinha
Promoção da Língua Portuguesa e da Cultura em Língua Portuguesa – um intercâmbio de escolas portuguesas e escolas no sector de Canchungo, Região de Cacheu, Guiné-Bissau


 Introdução

Na Região de Cacheu, constituída por seis sectores administrativos, habitam diversas etnias (Felupes, Mancanhas, Papéis, Balantas e outros) e, sobretudo a sul do rio Cacheu, vive uma maioria de povo Manjaco e são comummente Animistas, com uma minoria significativa de Católicos e uma pequena minoria de Muculmanos. Os manjacos são um povo emigrante, escolhendo essencialmente destinos próximos como Senegal e Gâmbia e, em alternativa, têm uma significativa presença em Portugal, Espanha e França. Como emigrantes mantêm uma forte ligação com a sua região e respectivas tabanka (aldeias), sendo importantíssimo as remessas das economias para as suas famílias – similar a grande parte das regiões do interior de Portugal!

Pretende-se com este projecto construir uma rota de solidariedade e intercâmbio entre Portugal e Europa e a Região de Cacheu na Guiné-Bissau – dar e receber –, feita de pequenos mas significativos gestos e acções que melhorem o dia-a-dia e bem-estar das populações envolvidas.

Andorinha porque se trata de uma ave migratória, existe cá e lá, e pretende simbolizar o carácter migrante dos portugueses e guineenses e a rota de solidariedade e intercâmbio que se pretende montar, entre cá e lá.

Andorinha é também um programa na Rádio Comunitária Uler A Baand em Canchungo para a Região de Cacheu e que irá noticiar e promover este projecto.


 Um projecto em construção…

A montagem de um projecto bilateral de troca de experiências e intercâmbio entre um estabelecimento de ensino de Portugal e de um congénere na Região de Cacheu (Guiné-Bissau) poderá proporcionar múltiplas vantagens recíprocas – e despoletar diversas acções de cooperação. Com efeito, a troca de correspondência escolar entre directores, professores e alunos, certamente aumentará o domínio da escrita em Língua Portuguesa entre os guineenses e promoverá o conhecimento sobre a Guiné-Bissau entre os portugueses.

É um projecto em construção porque a partir de uma acção simples, se pretende construir outras acções, dependendo da iniciativa dos actores envolvidos, da comunidade à direcção da escola, dos professores aos alunos.

É um projecto em construção porque poderão entrar mais escolas do lado de Portugal porque a partir da Região de Cacheu há mais escolas interessadas em poderem participar...


 Escolas envolvidas

As escolas envolvidas, em Portugal e na Guiné-Bissau, até ao momento, são as seguintes:

Escola E. B. 2 / 3 do Marão - EBE de Djita
Agrupamento de Escolas de Mondim de Bastos - EBU de Cabienque
Agrupamento de Escolas de Armação de Pêra - EBE “Prof. Martinho Gomes” de Pelundo
Agrupamento de Escolas de Vila Caíz - EBU “Tomás Nanhungue” de Tame
Escola E. B. 2,3 Dr. Joaquim Magalhães em Faro - Liceu Regional Hô Chi Minh em Canchungo

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Canchungo V


«Existe também uma mercearia de portugueses, do senhor Orlando – que ainda não tive a oportunidade de conhecer. É quase sempre a filha que está atrás do balcão, nascida na Guiné-Bissau, ou o marido, também português e aqui nascido. São ambos muito simpáticos e é a quem tenho recorrido para pedir informações conselhos, solidariedades – neste momento é ele que leva estas cartas para serem expedidas pelos Correios em Bissau.
Acontece também ser interpelado na rua nas lojas no mercado, sobretudo por homens mais velhos, perguntando-me se sou português, para me revelarem a sua ligação a portugueses e para poderem falar com orgulho o seu melhor português! Foi o caso de um ex-combatente do exército português, de um ex-cozinheiro de uma família portuguesa, de um muçulmano ex-tratador de gado de um agricultor português.

Já me habituei a que alguns miúdos corram para mim a gritar “branco pelelé”! Neste contexto, a minha cor de pele, branca, dá nas vistas, e nem preciso de ter um nome, sou simplesmente o branco! Aproveito sempre para lhes ensinar o meu nome e agora alguns já correm a gritar “António”!» [26.10.2006]

Canchungo IV


«Também é difícil encontrar palavras para expressar descrever como é o calor! Sempre se ouve dizer que o nosso corpo é constituído maioritariamente por água mas nos primeiros dias cheguei a assustar-me por o meu corpo se esvair em água suor! Por mais que beba água fico sempre com a sensação que durante o dia sai muita mais água do corpo do que entra! Temo uma desidratação!
Como explicar: não é aquele calor que queima ou que só é quente quando se está ao sol; não, é um calor que está sempre presente, em todo o lado, em qualquer situação, de manhã à noite, mesmo quando se dorme! Qualquer gesto que se faça ou mesmo que se esteja imóvel, está-se a suar! Ter a t-shirt ensopada e até mesmo a perna das calças, suar da testa em bica, sentir os pêlos dos braços encharcados, passou a ser o mais normal do dia-a-dia!

Tive a oportunidade de utilizar os transportes públicos e colectivos locais - as denominadas candongas.
Existem três modalidades. As seteplace, que são aquelas carrinhas tipo van de cinco lugares, a cujo espaço de bagageira foi acrescentado outro banco para haver mais lugares – são as de tarifa mais cara, mais rápidos, (dizem) mais confortáveis e mais raras. Depois existem carrinhas fechadas, que vão das Hiace a outras maiores. Por fim, as carrinhas de caixa aberta, cobertas por um tolde e abertas dos lados – são as mais baratas e as mais vulgares abundantes; na época das chuvas ou do verão com a poeira, são as mais desconfortáveis.
Comum a todas estas modalidades é o aproveitamento do espaço de modo a conseguirem ter o máximo de lugares sentados, o que é conseguido pela utilização de bancos corridos. Todos estes transportes só partem quando todos os lugares forem ocupados, ou seja, quando encheu completamente, e isto significa irmos todos ombro a ombro bem aconchegados. O que se revela um modo de viajar confortável, adequado e adaptado a estes percursos acidentados de buracos e sacudidelas, porque nos amparamos uns aos outros. Misturam-se homens e mulheres, jovens e adolescentes, crianças e bebés, algumas mercadorias e animais (já viajei com galinhas e cabritos), e gera-se um bom convívio – há pessoas que se apresentam e metem conversa comigo com natural e espontânea simpatia.» [26.10.2006]

Canchungo III


«O que as palavras não conseguem pintar é o colorido das pessoas, resultante de uma mistura de etnias, com os respectivos modos de ser e de estar. Canchungo, assim como a Região de Cacheu, a que pertence, é de maioria manjaco – caracterizam-se por serem os mais escuros dos negros. Mas, tal como acontece por toda a Guiné-Bissau, em Canchungo e Cacheu misturam-se as mais diversas etnias, das muitas que constituem a Guiné-Bissau e regiões de países limítrofes, numa tolerância e convivência louvável – sobretudo se pensarmos ao quanto esta falta de tolerância e sã convivência tem provocado guerras e genocídios em países próximos e, não esquecer, na Europa Central. É o respectivo modo de trajar diferente que provoca este colorido pelas ruas e mercados.
O mesmo se passa em relação à religião, que se mistura e convive por todo o lado. Os manjacos repartem-se por serem animistas ou muçulmanos, existindo igualmente uma minoria cristã – que se distribuem por serem católicos, adventistas, evangélicos. É assim que na Avenida fica a igreja católica e na rua atrás de nossa residência fica a mesquita – cinco vezes por dia, a iniciar-se às cinco da manhã, ouvimos o imã cantar a oração; quando chegamos à Guiné-Bissau, teve início o Ramadão, em que durante a luz do dia têm de jejuar, e agora passado um mês está a terminar. Todas as outras igrejas presentes têm o seu espaço de culto e oração, e respectivos pastores e actividades.

Enquanto as aulas não começam e para minha integração ambientação, realizamos visitas às Escolas e respectivas tabankas, onde irá decorrer o nosso trabalho para este ano lectivo. Foi assim que já tive o primeiro impacto visual com Calequisse, Pelundo (onde curiosamente um dos edifícios sala da escola ocupa uma antiga igreja portuguesa porque deixou de ter o respectivo padre), Cabienque, Tame, Canhobe e Caió. Em todas as visitas fomos acompanhados por um elemento da associação que federa as associações da Região, que são o nosso principal parceiro local de projecto, e por alguns dos directores de Escola. Em todas as aldeias registei muita curiosidade no olhar das gentes.» [26.10.2006]

Canchungo II


«Parte da Avenida é um mercado todos os dias, incluindo os domingos, desde a manhã até escurecer. Existem pequenos stands de venda e em algumas casas há pequenas mercearias. Há de tudo um pouco em oferta e alguns stands ou lojas são um pouco mais especializados, como os que vendem chinelos e outro calçado leve, ou malas de viagem, ou uma grande variedade de artigos de plástico, ou redes de pesca, ou fechaduras de porta. Continuo a sentir aquele sentido de comércio: cada um tem um pouco de qualquer coisa, um pouco de amendoim, algumas beringelas, que trás e expõem, por vezes apenas no chão do que resta dos passeios, e vende.
Na primeira ida às compras, entrei numa mercearia e é o suficiente para perceber que não entendem o português. Como não sei o crioulo, procuro outras formas de me fazer entender. O homem fica pouco à vontade mas lá nos entendemos. E no final, depois de pagar, tem o gesto de ir buscar dois rebuçados que oferece com um largo sorriso! – fica na memória.

Foi logo nos primeiros dias que descobri dois recantos encantadores desta terra: o rio e as bolanhas.
Chega até aqui um braço do rio Mansoa e a sua visão descoberta é deslumbrante! Neste local forma um extenso lençol de água e custa a crer que a maré possa descer e que ficará praticamente sem água, assim como custa a crer que tão longe do mar não seja água doce mas salgada, porque o denominado rio Mansoa é um braço de mar, com as respectivas marés! Neste local forma uma curva e na outra margem oposta há um massivo de árvores baixas ou arbustos com raízes aéreas.
Um grupo de homens remendava as redes. Outros passavam remando na ré de longas pirogas; são de uma peça única, massiva, escavadas num tronco de árvore; elegantes e belíssimas. Começo a notar que há classes sociais ou profissionais bem definidas: estes são os pescadores e têm uma pose, um modo de estar, de trajar.
Nesta margem, há mulheres e crianças a britarem o cascalho. Tenho a sensação que tudo serve para ser transformado, para ser vendido, e para se tentar um parco rendimento monetário.
Do outro lado da povoação, chega-se às bolanhas, os campos alagados de arroz. O vale confere largueza ao olhar, a simetria das divisões ganham várias tonalidades de verde e ao entardecer a luminosidade confere outras policromias – há noite é como um fogo-de-artifício de pequenas luzinhas verdes esvoaçantes: são dezenas e dezenas de pirilampos!

Na mesma Avenida é a entrada para o Mercado local. No interior encontram-se dezenas de pequenas bancas, tudo acanhado, como se fosse em miniatura. Um ambiente mágico – como acho que é inerente a todos os mercados por esse mundo fora.
Representa novamente muita gente a vender. Sempre pequenas quantidades, que dispõem apresentam em pequenos montículos (três cebolas, duas cenouras, um punhado de grãos de feijão, um naco de abóbora cortada, quatro bananas-maçã, etc) porque é assim que se fazem os preços - e não ao peso. Decerto porque todas as pessoas só poderão comprar em pequenas quantidades. Todos os dias a oferta pode apresentar algumas novidades – e por isso me encanta “ter” que ir quase todos os dias ao Mercado para fazer compras!
Como se depreende, a oferta de legumes de base é boa – não aparece a alface ou a couve, podendo ser substituídas pelas folhas de mandioca ou da batata doce, mas ainda não aprendi a prepará-las. A fruta é sazonal e irá começar a do maracujá e goiaba, e ainda teremos de esperar pela da papaia e manga. A oferta de peixe é generosa, diversificada e fresca. Quanto a carne comecei pela de gazela – o que me parece um luxo! Já descobri um mercado de gado bovino e outro de suínos e caprinos, e localizei a existência de um talho no Mercado.
De seis em seis dias, o mercado da Avenida transforma-se na chamada Feira Grande. O que significa que as gentes das tabankas (aldeias) em redor vêm vender e comprar. Há mais gente, maior oferta e, por conseguinte, mais cor e ambiente mágico. Começo a descobrir o artesanato local, como os potes de barro riscado para a água, as cestas largas, as esteiras, os bancos de madeira talhados, as panelas feitas de lata amassada (em reciclagem), os panos de coloridos padrões. E as técnicas de oferta e venda também se sofisticam, sobretudo pela mobilidade: desde os miúdos que aproveitam uma caixa de papelão para colocarem um fita e andarem com o seu conteúdo a tiracolo, a carrinhos de mão que se empurram cheios de produtos, ao mais elaborado e sofisticado de todos: não conseguem imaginar a quantidade de roupa que se consegue equilibrar numa bicicleta em estendal e o rapaz montado ainda consegue pedalar devagar por todo o lado! – um feito digno de figurar como número de equilibrismo em qualquer circo e pelo quantidade de roupa transportada em mostruário numa só bicicleta, digno também de figurar no Guiness Book!» [26.10.2006]

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Centro de Desenvolvimento Educativo


Na cidade de Canchungo (Região de Cacheu), surgiu a necessidade, por ausência de estrutura disponível, de se implementar um Centro de Desenvolvimento Educativo em parceria com a comunidade local. Com efeito, professores, directores de escolas, formadores, bibliotecários e associações, têm manifestado a necessidade de se criar um espaço para pesquisa e leitura de forma a colmatar as carências identificadas, tendo em conta que o acesso a material de leitura e consulta técnica nos diversos domínios é extremamente limitado, sendo a publicação e importação de livros praticamente inexistente. De realçar a importância e a potencialidade deste centro na dinamização de diversas actividades de animação sócio culturais direccionadas para os diferentes grupos da comunidade, gerando por si actividades formativas potenciadoras de enriquecimento pessoal e profissional das comunidades onde estão inseridos.

Este CDE a ser instalado em Canchungo teria como objectivos específicos:
• Criar um espaço apetrechado com materiais de leitura e consulta aberto aos diferentes agentes educativos e á comunidade em que está inserido;
• Instalar um centro de recursos destinado especificamente à autoformação de professores, directores, formadores e educadores, contendo bibliografia e materiais para este fim;
• Instalar uma sala apetrechada com computadores que possibilite não só a utilização pelos agentes educativos, mas também que possibilite a realização de cursos de informática abertos à comunidade;
• Promover actividades de animação sócio-culturais de carácter formativo;
• Servir de estrutura de apoio às diferentes associações e ong’s locais assim como outras estruturas ligadas à educação.

Para a concretização deste objectivo iniciou-se em 2004 um processo de discussão/análise com a colaboração de diversos representantes da sociedade civil e instituições de Canchungo. Deste grupo de trabalho surgiu como potencial localização a Escola 1 de Junho (antiga estrutura apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian em 1966) situada estrategicamente no centro da cidade como o espaço ideal para a criação de um Centro de Desenvolvimento Educativo.
De reuniões tidas com o Ministério da Educação Nacional surgiu a disponibilização, por parte deste, de ceder o espaço para ser reabilitado e posteriormente utilizado. Foi realizado um orçamento de reabilitação/apetrechamento deste espaço e iniciaram-se diversos processos de angariação de fundos, no entanto os montantes necessários para a sua reabilitação, devido ao avançado estado de degradação física, revelaram-se bastante elevados o que de certa forma tem contribuído para a falta de avanços obtidos no prossecução dos objectivos.

Como alternativa para a implementação do CDE foi analisado ao longo de 2007 a possibilidade de se optar por uma construção de raiz o que permite não só pensar o espaço á medida do que seria mais indicado, como também resultaria num orçamento menor aumentando também as possibilidades de obter financiamento para a sua construção. Foi apresentada esta necessidade ao Comité de Estado de Canchungo que mostrou disponibilidade em colaborar nomeadamente através da cedência de um terreno para a realização da obra, paralelamente foi realizado um projecto e o respectivo orçamento da obra, o que permite podermos estabelecer um ponto de situação relativamente aos apoios concedidos até ao momento para a implementação deste projecto.
Ficou acordado entre os parceiros que a gestão do processo de construção será feita por um comité de gestão constituído por um representante do Comité de Estado, um representante da Action Aid, um representante da Direcção Regional de Educação (DRE) de Canchungo, um representante da Fundação Evangelização e Culturas (FEC) e um representante da CONGAI – Confederação das Organizações não Governamentais e Associações Intervenientes ao Sul do Rio Cacheu. Entretanto, foi decido abrir o CDE num espaço provisório, com o principal objectivo de se dar os primeiros passos que possam consolidar esta iniciativa.

O CDE provisório foi aberto a 1 de Setembro de 2008 e atribuída a sua gestão à CONGAI – com o apoio financeiro por seis meses da Action Aid, permitindo cobrir as despesas do seu arranque. O espaço tem uma localização central na cidade de Canchungo, sobretudo próximo de diversos estabelecimentos de ensino, com uma sala de biblioteca – equipada com fotocopiadora, vídeo e televisor – e uma pequena sala de informática com seis computadores disponíveis – mais um para uso da bibliotecária.
A bibliotecária foi colocada pela Direcção Regional de Educação de Cacheu e neste momento tem o estatuto de professora contratada. Embora possua formação de bibliotecária no âmbito de projectos apoiados pela UNICEF na Guiné-Bissau, as suas competências cingiam-se à catalogação e classificação bibliográfica. De imediato foi solicitado apoio ao professor Augusto da Silva, bibliotecário-formador do PAEIGB – Projecto de Apoio à Educação no Interior da Guiné-Bissau realizado pela FEC, para conceber e realizar uma formação complementar. Em conjunto com a bibliotecária, seleccionaram as seguintes áreas: perfil e funções do bibliotecário, planificação e divulgação de actividades, técnicas de animação, ligação à comunidade e escolas – duas sessões foram já realizadas. Complementarmente, foi pago à bibliotecária a frequência de um curso de iniciação à Informática no CENFA local – o que concluiu com êxito!

O CDE tem a sua aposta na complementaridade das suas valências e serviços prestados. A biblioteca conta com cerca de quatro centenas de títulos, essencialmente na área da Educação – com um generosa oferta de dicionários em Língua Portuguesa.
A aposta no horário à noite com electricidade, permitindo o único espaço de estudo à noite na cidade, e com abertura ao sábado, para permitir o seu uso por professores das tabankas em redor – como foi solicitado pelos próprios, aquando da visita dos 46 professores de Cabienque, Pelundo, Djita, Tame e Canhobe do projecto +Escola.
A sala de informática aquando da abertura era única na cidade. Entretanto, abriram mais três locais com computadores, onde apenas se pode aceder pagando o curso. Este espaço continua a ser o único aberto ao público para utilização – para treino e consolidação destes cursos!
A oferta do serviço de fotocopiadora, com descontos para alunos e professores, fez baixar o preço exorbitante praticado na cidade!

A avaliação de seis meses de funcionamento é globalmente positiva. Com efeito, regista-se uma frequência significativa, quer no período da manhã, por jovens estudantes de diferentes escolas locais – com t.p.c. de pesquisa –, quer no período da noite – também para uso de computadores ou da fotocopiadora. Esta frequência ganhou novo fôlego com o apoio da Cooperação Portuguesa de fazer chegar – através da FEC – diversas publicações da imprensa, quer revistas e jornais de Portugal, quer jornais da Guiné-Bissau.
Neste momento, ainda não se atingiu uma sustentabilidade financeira, mas pelo menos está atingir uma receita em termos de comparticipação significativa. Sobretudo é importante que o objectivo da auto-sustentabilidade financeira esteja consolidado entre os parceiros que sustentam este projecto – bem como na própria bibliotecária no desempenho das suas funções. Há a consciência de que este objectivo poderá ser atingido a médio prazo, com a tendência de aumento de utentes, e sobretudo nas condições de oferta que se projectam para o espaço definitivo, nomeadamente com o acesso a Internet – pelo que é um objectivo prioritário e urgente a sua construção.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Presença portuguesa na Guiné


Todavia, sem prejuízo do nosso sentido de rigor, Ribeiro (1989) divide a história da presença portuguesa na Guiné em três períodos:
1 – do séc. XV à c.1850, período durante o qual os portugueses podem ser considerados como “emigrantes” estrangeiros que tinham como principal actividade o negócio, para o qual pagavam aos reinos locais tributos e outras taxas tais como, por exemplo, a taxa de residência;
2 – o segundo período, de 1850 a 1900-1915, é caracterizado pela coabitação de dois espaços de jurisdição, o que não obsta à observância de tributos aos poderes dos territórios de acolhimento:
- a praça (centro comercial) e o presídio (zona residencial) do lado europeu (português e, mais tarde, holandês, inglês, alemão e italiano), geralmente junto dos rios;
- a cité africana.
O apogeu desta submissão europeia aos reinos locais conduz, com o concurso da famosa cláusula única do Tratado de Berlim sobre a ocupação efectiva da parcela recebida, às campanhas ditas de pacificação empreendidas pelos portugueses.
3 – o terceiro e último período, que aliás corresponde de facto à dominação colonial, começa por volta de 1920, imediatamente depois da “campanha de pacificação”, e prolonga-se até à proclamação da independência.
Após esta breve resenha histórica, na qual muitos povos e situações não foram mencionados, é possível dar-se conta que a origem geográfica dos povos da Guiné de então ultrapassa de muito longe as suas fronteiras actuais [...]
[“Contribuição para o Debate sobre Identidade e Cidadania na Guiné-Bissau” Ibrahima Diallo, Soronda – Revista de Estudos Guineenses, Nova Série nº 8, Julho 2004, p. 85-96]

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Canchungo I


«Entramos em Canchungo. Acho que já me habituei a esta imagem de destruição e, talvez por isso, comparativamente, me parece a localidade mais agradável de todas as que fui conhecendo.
Há uma rotunda, que distribui o traçado das outras ruas; o piso é de terra batida e ainda não tendo terminado a época das chuvas, há inúmeras covas cheias de água barrenta. A nossa rua é uma avenida, larga, a terra batida e os respectivos charcos de água da chuva, com passeio a meio e uma dúzia de postes de iluminação … que há muitos anos se quedam inúteis sem electricidade – não há qualquer distribuição de electricidade pública, em qualquer das outras chamadas cidades, incluindo Bissau; todas as casas que têm o luxo de terem electricidade à noite, é porque possuem um gerador que funciona a diesel e faz um matraquear característico por aqui à noite!
Salta à vista sempre aquele ambiente de muita gente nas ruas, por todo o lado, homens e mulheres, e sobretudo muitos jovens e crianças.

Parte da Avenida é um mercado todos os dias, incluindo os domingos, desde a manhã até escurecer. Existem pequenos stands de venda e em algumas casas há pequenas mercearias. Há de tudo um pouco em oferta e alguns stands ou lojas são um pouco mais especializados, como os que vendem chinelos e outro calçado leve, ou malas de viagem, ou uma grande variedade de artigos de plástico, ou redes de pesca, ou fechaduras de porta. Continuo a sentir aquele sentido de comércio: cada um tem um pouco de qualquer coisa, um pouco de amendoim, algumas beringelas, que trás e expõem, por vezes apenas no chão do que resta dos passeios, e vende.
Na primeira ida às compras, entrei numa mercearia e é o suficiente para perceber que não entendem o português. Como não sei o crioulo, procuro outras formas de me fazer entender. O homem fica pouco à vontade mas lá nos entendemos. E no final, depois de pagar, tem o gesto de ir buscar dois rebuçados que oferece com um largo sorriso! – fica na memória.» [26.10.2006]

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Bankada Andorinha III





Em Janeiro de 2009, sobretudo com o início do ano lectivo liceal em Bissau, algumas bankadas sofreram algumas ausências de elementos, que afectaram o seu funcionamento regular. No entanto, na sequência de uma campanha de sensibilização e promoção da Língua Portuguesa junto a algumas escolas da cidade – destacando-se a receptividade encontrada no Liceu Regional Hô Chi Minh –, realizado por elementos das bankadas Andorinha, e a organização da actividade “Nô Pensa Cabral!” a 20 de Janeiro, fez despoletar a fundação de novas bankadas:

 Bankada Andorinha Tchada 1 – Diunisius A.C.T.S. Barbosa (Presidente), Sebastião F. Quadé (Vice-Presidente), Marina Isabel Mancal (Secretária), Beto João Pula (Vice-Secretário), Zaira J. Pereira (Porta-Voz), Suzete D. Sanca (Disciplina), Wad Monteiro (Tesoureiro), Eunice Barbosa (Vice-Tesoureira), Jorge Cabral (Desporto).
 Bankada Andorinha Tchada 2 – Júlio Tomás Mambinaul (Presidente), Ludicimira Fernando Mendes (Secretária), Irina Vasco André (Vice-Secretária), Elisabete Mendes Barbosa (Financeira), Chinfon Djatá (Porta-Voz), Artumicio Nunes Té (Chefe de Disciplina).
 Bankada Andorinha de Tame – Braima Mendes (Presidente), Suzete A. Tomas (Vice-Presidente), Ailton F. Mendonça (Vice-Presidente), Bernardo Gomes (Animador), Joseph Gomes (Secrtário), Ispinula Bok Laurencio (Vice-Secretária), Fatumata Binta Bá (Porta-Voz), Mauricio D. Upa (Vice-Porta-Voz), Queba Coté (Tesoureiro), Antonieta I. Gomes (Vice-Tesoureira), Graciana Tomas Mendes (representante dos alunos e as alunas).
 Bankada Andorinha “Filhos do Campo” – Armando Sampa (Conselheiro), Fernando Djeme (Presidente), Juse Carlos Sanha (Vice-Presidente), Agostinho Nhaga (Secretário), Audilia Lopes Correia (Vice-Secretária), Julio Lima (Financeiro), Luis Carlos Fanda (Adjunto-Financeiro), Julio da Costa (Responsável Disporto e Cultura), Faustino Camilo Gomes (Respnsável de Disciplina), Ermelinda Mendonça (A mãe da Bancada), Quintino Agostinho Ponta (Porta-Voz), Admir Baticã Ferreira (Responsável Relações-Exteriores).
 Bankada Andorinha de Bairo di Irmondade – Lourenço Mendes (Presidente), Mário Silva (Vice-Presidente), Carla Pereira (Secretária), Justino Afonso Vaz (Vice-Secretário), Clemente da Costa (Financeiro), Donilson João Pereira (Chefe de Informação).
 Bankada Andorinha de Rua de Calquisse – Fernando da Silva (Presidente), Julio Gomes (Vice-Presidente), Ambrosio Mendes (Secretário), Vensam Mendes (Vice-Secretário), Adelino Mendes (Tezoreiro), Julio Mendes (Porta-Voz), Rofino Mendes (Vice-Porta-Voz), Herculano Mendes (Financeiro), Joaquim Mendes (Conselheiro).

Neste momento, estamos a realizar uma ronda de visitas para encorajar e consolidar estes processos em cada local. Assim, a 1 de Fevereiro visitamos a bankada Andorinha de Tchada 1, a 22 de Março a bankada Andorinha de Bairo di Irmondade, a 29 de Março a bankada Andorinha de Tchada 2 – e estão agendadas para 19 de Abril a visita à bankada Andorinha “Filhos do Campo” e a 26 de Abril a visita à bankada Andorinha de rua de Calquisse.
As reuniões da bankada central Andorinha mantêm-se com a periodicidade mensal no Centro de Desenvolvimento Educativo e resultam sobretudo para apoiar actividades complementares, como o visionamento de vídeos em Língua Portuguesa e o correcção de exercícios em Língua Portuguesa.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

País Natal


Um sentimento de amor pátrio sobe no meu coração,
Em espírito demando o meu pais natal,
E lembro aquela floresta africana,
Cheia de caça e de verdura;
Lembro as suas imensas árvores gigantes,
A folhagem verde ou amarela
Que nos perfuma.
Revejo a minha infância,
Toda cheia de alegrias:
Eu corria pelo mato,
Espiava os animais selvagens,
Sem medo;
E olhava os lavradores nos campos,
E, no mar, os pescadores,
Que lutavam contra o vento, para agarrar o peixe,
E que eu, atento, seguia com o olhar:
Como gostava de os ver no oceano
Domar as vagas, que lhes queriam virar as barcas!
(Ah!, bem me lembro, bem me lembro do meu pais natal!

António Baticã Ferreira (Canchungo, Cacheu, Guiné-Bissau, 25/12/1939)
Poeta, colaborador em várias publicações, médico.
in www.lusografias.com

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Diário XII


«Foi no dia 28 de Setembro que rumamos a Canchungo (antiga Teixeira Pinto), que pertence à região de Cacheu – o meu destino por um ano!
Já fora avisado que o estado da estrada era o pior e mesmo já tendo a experiência de outros percursos em mau estado, estava longe de imaginar que pudesse ser tão difícil: é o percurso de estrada mais maltratado e penoso, quer em extensão de péssimas condições quer pela natureza dos buracos covas charcos pequenos lagos. Há o que resta de um alcatrão muito sólido, o que produz buracos mais fundos; mais valia arrancar todo o alcatrão que resta e deixar a pista de terra batida; porque por vezes o melhor percurso é nas margens, aproveitando os dois rodados por terra. Resumindo e concluindo: é um suplício, sobretudo para quem vai sem conduzir.
A boa surpresa é as árvores que ladeiam a estrada quando se aproxima de Canchungo; ainda com a base pintada de branco, como algumas das encantadoras estradas antigas de Portugal - apesar dos buracos não amainarem.» [26.10.2006]

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Bankada Andorinha II


De recordar que as bankadas são estruturas de organização informal, possuindo no entanto uma direcção eleita e estruturada – sendo de realçar que cada bankada tem mais elementos (existem listas nominais no dossier).
Estas bankadas são constituídas por jovens estudantes de diferentes escolas e de diferentes níveis de ensino. Os elementos mais velhos são personalidades influentes na comunidade destes jovens – que ficam com o título de “Pais da bankada”. Há também jovens que se destacam pelo seu dinamismo no bairro – até por pertencerem a outras associações – e que ficam com o cargo de “animadores”.
Um outro factor de organização, é o facto de se quotizarem, nomeadamente para poderem comprar velas para as reuniões e/ou saldo para um telemóvel para poderem participar no programa radiofónico Andorinha.
Uma regra comum a todos é da bankada reunir-se apenas podendo utilizar a Língua Portuguesa. Há bankadas que estenderam o uso da Língua Portuguesa a outros espaços e ocasiões, nomeadamente quando elementos da bankada se encontram na rua – com a penalidade de uma multa pecuniária!
Por último, resta referir que os secretários, ao elaborarem as actas das respectivas reuniões, treinam a escrita da Língua Portuguesa.

Na sequência desta fase, as bankadas decidiram que seria necessário a existência de uma bankada central para poder dar continuidade a esta dinâmica e para apoiarem as bankadas existentes. Decidiram que a bankada central Andorinha deveria ser constituída pelos presidentes de cada bankada e que teriam sede no Centro de Desenvolvimento Educativo de Canchungo. Em Setembro de 2008, ficou assim constituída:
 Bankada Central Andorinha – Júlio Mendes Ninte (Presidente), Eduardo Gomes (Vice-Presidente), Paulino Victor Pereira (Secretário), Martinho Inácio Alves (Vice-Secretário), Julaica Baticã Ferreira (Financeira), Quintino da Silva (Porta-Voz), Clemente Mendes (Vice-Porta-Voz), Josimar Gomes (Responsável Cultura e Desporto), Pedro Mendes (Vice-Responsável Cultura e Desporto).

domingo, 29 de novembro de 2009

Resenha Histórica do Povoamento


A Guiné-Bissau compõe-se de uma zona costeira e de um interior, ambos povoados por mais de uma dezena de grupos étnicos com muitas variantes locais e com particularidades culturais e linguísticas por vezes acentuadas. [...]
O Norte, o Noroeste, o Sul e parcialmente o Leste da Guiné-Bissau, considerados zonas costeiras, são povoados por vários grupos étnicos e variantes do mesmo etnos, sendo alguns deles autóctones. [...]
Para além dos grupos étnicos já referidos, o litoral da Guiné-Bissau é povoado na sua totalidade por dezasseis grupos étnicos, entre os quais Balantas, Manjacos, Pepéis, Mancanhas, Fulas, Cobianas, Bijagós e outros [...]
Em relação aos Manjacos e Mancanhas, considerados população autóctone da Guiné-Bissau e mais concretamente do território situado entre os rios Cacheu e Mansoa, Teixeira da Mota escreveu que já no séc. XV ocupavam este território. Apesar de não ser uma data comprovada por outras fontes, a história oral reza que deste tempos muito antigos eles viviam neste território. Existe, de facto, um forte enraizamento de todos estes grupos na zona costeira, tanto no território que é hoje pertença do Senegal como no que restou a favor da Guiné-Bissau na sequência da última delimitação de fronteiras entre Portugal e França que, embora concluída em 1905, conheceu algumas rectificações em 1930-1931. [...]
A zona costeira é, desde há longo tempo, uma zona de confluência de muitos povos e culturas. Ela encontra-se hoje fortemente povoada sobretudo por Balantas, Fulas, Manjacos, Pepéis e Mancanhas, enfim, por grupos que representam a população maioritária do país, constituindo no seu todo cerca de 71% do total da população recenseada e com a seguinte repartição: Fulas (25,4%), Balantas (24,6%), Manjacos (9,24%), Pepéis (9,01%), Mancanhas (3,54%). [...]
[“Subsídios para o Estudo do Movimento Migratório na Guiné-Bissau” Fernando Leonardo Cardoso, Soronda – Revista de Estudos Guineenses, Nova Série nº 3, Janeiro 2002, p. 29-49.]

sábado, 28 de novembro de 2009

Diário XI


«Como já deixara o aviso, acesso à Internet apenas quando estou em Bissau – existem dois ou três cybercafés. Mas a experiência foi ainda pior do que poderia imaginar. Com uma senha de uma hora a maior parte das vezes revelou-se impraticável: é lento lento lento, tão lento, com a agravante de perder com frequência a linha, não consigo realizar qualquer operação, como seja a de enviar um simples email … ao longo desse hora – têm que conseguir imaginar que cada clique que se tem de realizar num daqueles endereços com, por exemplo, banner publicitários, tem que se esperar cinco a dez minutos que aconteça a operação; e se tentamos avançar depressa demais, acontece que encrava bloqueia; isto quando não perde a linha e tem que se recomeçar tudo de novo! Já me aconteceu estar mais de meia hora para conseguir chegar ao ponto de escrever um email e quando estou à espera que a operação “enviar” resulte, falha a linha e perde-se tudo! Isso de uma Sociedade da Informação à escala Mundial, democrática, acessível a todos, é uma treta!» [15.10.2006]

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Bankada Andorinha





Na sequência da primeira emissão do programa radiofónico Andorinha, fomos contactados por diversos jovens, sobretudo estudantes na cidade de Canchungo, que não só elogiavam esta iniciativa de um espaço de promoção da Língua Portuguesa e da Cultura em Língua Portuguesa, como manifestavam a vontade de apoiarem e solicitavam formação / aulas.
Para lidarmos com esta situação, convocamos uma reunião a 3 de Julho de 2008 com todos os interessados e pusemos em discussão como se poderia realizar esta ligação. Dos presentes surgiu a ideia de se organizarem em bankada*, com o objectivo sobretudo “de praticarem a oralidade e ultrapassarem o receio de falarem em português”!
De imediato, este grupo inicial constituído por jovens sobretudo de diferentes bairros da cidade de Canchungo e de tabankas próximas, iniciaram um processo de constituição de bankadas e foi organizado um périplo de visitas para encorajar e consolidar estes processos em cada local. Assim, a 16 de Julho visitamos um grupo em Wambo, a 23 de Julho, um grupo em Tchada, a 30 de Julho, um grupo na Avenida Titina Silla, a 6 de Agosto, um grupo no quartel do 2º Batalhão de Infantaria “Saco Vaz”, a 13 de Agosto, um grupo na tabanka de Caroncã, a 20 de Agosto, um grupo na tabanka de Cajegute (no sector de Caió), e a 28 de Agosto, um grupo na tabanka de Catchobar.
Estas iniciativas deram origem às seguintes bankadas Andorinha:

 Bankada Andorinha de Cajegute – Regina Upá (Presidente), Julião Mendes (Vice-Presidente), Nelson Mendes (Secretário), Emiliano Gomes (Tesoureiro), Amarante Upá (Porta-Voz), Enque Bajulã (Delegado), Pedro Mendes (Orientador).
 Bankada Andorinha de Betame – Raimundo Mendes (Pai), Eduardo Gomes (Presidente), Cristiano Lopes (Vice-Presidente), Armando Mendes (Porta-Voz), Tidjane Balde (Financeiro), Ludimila da Costa (Secretária), Francelino Mendes (Vice-Secretário).
 Bankada Andorinha Avenida Titina Silla – Ausa Pina Mango (Presidente), Júlio Mendes Ninte (Vice-Presidente), Usta Pina Mango (Secretária), Julaica Baticã Ferreira (Tesoureira), Maria Alice da Silva (Animadora).
 Bankada Andorinha de Wambo – Martinho Inácio Alves (Presidente), Fernando Apio Gomes (Vice-Presidente), Egas Mendes Gomes (Secretário), Ivan Lima (Vice-Secretário), Nando (Chefe de Desporto), Maira Ié (Financeira), Mamadu Mané (Porta-Voz)
 Bankada Andorinha de Quartel “Saco Vaz” – Quintino da Silva (Presidente), Ernesto Aumil (Vice-Presidente), Domingos Augusto Virgílio (Secretário), Pedro Mura N’Djale (Conselheiro), Paulo Midana Bessunha (Fiscal), Amâncio Manga (Porta-Voz), Olivio da Silva (Responsável de Desporto), Carlos Caetano (Vice-Responsável de Desporto), Malam Sanô (Tesoureiro).
 Bankada Andorinha de Catchobar – Paulino Victor Pereira (Presidente), Vladmir José Vaz (Vice-Presidente), Rosete Ulimato Mendes (Secretária), Matcho Vaz (Vice-Secretário), Júlio Mendes (Financeiro), Denilson Mendes (Vice-Financeiro), Jampier Mendes (Porta-Voz), Domingos Gomes (Vice-Porta-Voz), Aristides Pereira (Orientador), Gastão Gomes (Vice-Orientador), Iafai (Pai), Preta Vaz (Responsável Higiene), Gil Vaz (Responsável Disciplina), Luke Mendes (Responsável Desporto).
 Bankada Andorinha Umé Alil de Canhobe – Francisco Gomes (Presidente), Upá Mendes (Vice-Presidente), Idó Ucalculaco (Secretário), Marculino Mancat (Adjunto-Secretário), Sãozinha da Costa (Animadora), Teresa Bassa (Financeira), Valentim A. da Costa (Pai da bancada).
[*Bankada é um grupo informal mas estruturado, sobretudo de jovens, que se juntam num local na rua, para ouvirem rádio – neste caso, o programa Andorinha e para praticarem a oralidade em Língua Portuguesa.]

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A poesia na Guiné-Bissau


A poesia foi a primeira e, durante muito tempo, a única forma de expressão literária contemporânea da Guiné-Bissau. Ela surge nos anos 1940 do século XX como poesia de combate, incitando à luta de libertação. Vasco Cabral, António Baticã Ferreira e Amilcar Cabral fazem parte desta geração de poetas independistas.
Com a independência do país, surge uma vaga de jovens poetas, entre os quais se destacam Agnelo Regalla, António Soares Lopes (Tony Tcheca), José Carlos Schwarz, Hélder Proença, Francisco Conduto de Pina, Félix Sigá, cujas obras impregnadas ainda de espírito revolucionário, manifestam um caráter social. O colonialismo, a escravatura e a repressão são temas desses autores que, no pós- independência imediato, apelam para a construção da Nação e invocam a liberdade.
O desencanto do pós-independência fez com que a euforia revolucionária cedesse lugar à uma poesia mais pessoal, intimista, internacional, com utilização de léxico inglês, e com a deslocamento dos temas Povo-Nação para o Indivíduo. Entre os seus autores encontram-se: Hélder Proença, o ex-pós-independista Tony Tcheca, Félix Sigá, Carlos Vieira, Odete Semedo. Leia-se trecho de “Batucada na noite”, de Tcheka: “ ... aqui há funky/há merengada/ e antilhesas na madrugada”.
Embora o português seja a língua que prevalesça na poesia guineense, o recurso ao crioulo é cada vez mais freqüente, quer pela escrita em crioulo propriamente, quer pela utilização de termos e expressões crioulas em textos em português.

www.sibila.com.br

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Diário X


«Bissau é uma cidade capital de contrastes: onde convive a pobreza e a opulência. A pobreza e indigência da maior parte da população citadina, que procura vender de tudo um pouco; assediando qualquer branco ou forasteiro, insistentemente oferecendo isso e aquilo – é incómodo este assédio. Opulência de alguns guineenses, que deverão ser políticos, polícias ou militares, e que se passeiam com carros novos e caros, de preferência jipes. A opulência que mais incomoda é a das ONG’s, com os seus jipes e carrinhas todo-o-terreno, últimos modelos, com ar condicionado; Bissau é um mostruário de inúmeras instituições e ong’s, do Banco Mundial aos vários organismos da ONU – Fao, Unicef, UnVolunteers.
Dos políticos fala-se da corrupção e das ausências do presidente Nino Vieira, que se diz estar quase sempre ausente do país – também por medo e insegurança. No dia feriado de comemoração do 33º aniversário da independência, da varanda da Pensão Central vi passar o carro presidencial, que é um jipe enorme e blindado, rodeado por uma forte escolta de diferentes militares e diferentes polícias, com metralhadoras e diverso armamento pesado – o suficiente para se perceber que não é um presidente que se aproxima do seu povo.
Para um país pequeno, com pouco mais do que milhão e meio de habitantes, é desproporcionado o número de militares – que afinal não estão presentes apenas na capital mas em todas as cidades existem quartéis e militares. São como uma classe à parte e superior à restante população, uma vez que fazem questão de ostentar os seus privilégios – como o de passarem à frente em qualquer serviço ou transporte. [Neste momento, enquanto a maior parte dos funcionários do Estado, onde se incluem os professores, têm os seu salários em atraso, isso não acontece a qualquer dos militares]» [15.10.2006]

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Andorinha - programas extra


Ao longo deste ano também aconteceram programas extras devido a questões de calendário: quando o programa ía para o ar num dia em que um acontecimento se impunha, como aconteceu com a inauguração e abertura do Centro de Desenvolvimento Educativo em Canchungo, o Dia de Natal e o primeiro dia do Ano Novo.

 A 4.09.2008, sobre a inauguração e abertura do Centro de Desenvolvimento Educativo em Canchungo, foram descritos as suas valências (biblioteca, sala de informática, fotocopiadora) e foram apresentadas diversas referências bibliográficas, sobretudo na área da Educação. Foram difundidos depoimentos de Victória Mendes, a bibliotecária, Dulcineia Pereira, presidente da CONGAI – Confederação das Organizações não Governamentais e Associações Intervenientes ao Sul do Rio Cacheu, Raimundo Mendes e Maria Alice da Silva, membros de bankadas Andorinha, e Aristides Pereira, professor do Liceu Regional Hô Chi Minh.
 A 25.12.2008, sobre o Natal, com textos sobre a tradição natalícia de Portugal a Timor-Leste.
 A 01.01.2009, no âmbito do Novo Ano, falamos do que foi a presença da Língua Portuguesa no ano que passou e falamos do que perspectivamos para o ano de 2009 em relação à Língua Portuguesa e do que desejamos para o próximo ano de 2009, nomeadamente em relação à Língua Portuguesa, com os seguintes convidados em estúdio:
- Clemente Mendes, da bankada Andorinha de Caroncã e Vice-Porta-Voz da bankada central Andorinha;
- Eduardo Gomes, da presidente da bankada Andorinha de Betame e Vice-Presidente da bankada central Andorinha;
- Júlio Mendes Ninte, vice-presidente da bankada Andorinha da Avenida Titina Silá e Presidente da bankada central Andorinha.
No espaço de linha aberta com os ouvintes, segundo questões ou temas, ouvimos como os nossos ouvintes passaram a Passagem de Ano e o que desejam para o próximo ano de 2009, nomeadamente em relação à Língua Portuguesa.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Bambaran


O bambaran é um pano no qual as mulheres africanas amarram o filho às costas até a criança ter dois ou três anos. Pedir bambaran é o mesmo que pedir filhos. O termo balanta deeh significa simultaneamente ‘dar à luz uma criança’ e ‘carregar uma criança às costas’. [...] Se o destino das crianças é morrer, até as mulheres têm de morrer, já que de uma maneira muito concreta na sociedade balanta não subsistência possível sem criar filhos que cuidem da geração mais velha.
[“Fyere Yaabte: um Movimento Terapêutico de Mulheres na Sociedade Balanta” Inger Callewaert, Soronda – Revista de Estudos Guineenses, nº 20, Jul. 95, p. 33-72]

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Diário IX


«Assinalo a presença de portugueses. Em Bissau, para além da presença dos cooperantes, todos professores do ensino secundário, os residentes dominam os restaurantes ditos de qualidade, por apresentarem a cozinha portuguesa, e um dos maiores supermercados, onde se pode encontrar a maioria dos produtos portugueses de referência. O cônsul português é um homem simpático e acessível e que frequenta a Pensão Central – por exemplo, aos domingos é um dos animadores do encontro de jogadores de xadrez, que apreciam a sombra e beleza da varanda ao fim de tarde.
Nas outras localidades do interior, os portugueses estão presentes em pequenas mercearias, com anexos onde também se pode comer – sempre muito bem, uma mistura de cozinha portuguesa e local. A imagem é a daquelas mercearias vendas tascos que se podiam encontrar nas aldeias em Portugal há alguns anos atrás – e que ainda se encontram mas começam a desaparecer. Parecem-me personagens que saíram há muito tempo de Portugal e que por aqui ficaram ou foram ficando, como que parados no tempo; saíram pobres, pobres se mantiveram e pobres se irão manter! [Também encontrei portugueses e respectivos estabelecimentos assim em Hamburgo, na Alemanha, que é Europa - Comunidade Europeia]» [15.10.2006]

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Andorinha - programas temáticos


Desde o início que nos propusemos realizar programas temáticos, com uma periodicidade mais ou menos mensal, segundo alguns temas inicialmente propostos por nós.
Estes programas foram acontecendo, mais ou menos como o planeáramos, respondendo progressivamente a ideias e solicitações dos próprios ouvintes. É de salientar que estes programas têm a duração alargada de duas horas, contando com os convidados em estúdio e possibilitam uma maior abertura de linha para a participação de ouvintes.

1º a 05.06.2008, com o tema “Ser professor de Língua Portuguesa na Guiné-Bissau”, com os seguintes convidados em estúdio:
- Armando Gomes, professor do Liceu Regional Ho Chi Minh em Canchungo
- Bernardo Gomes, professor e director da Escola EBU Pública de Iniciativa Comunitária de Cabienque
- Fatumata Binta Bá, professora da Escola EBU Pública de Iniciativa Comunitária “Tomás Nanhungue” de Tame
- Paulo Gomes, professor da Escola Prof. Antero Sampaio de Canchungo

2º a 03.07.2008, com o tema “A formação em serviço de docentes em Língua Portuguesa na Região de Cacheu”, com os seguintes convidados em estúdio:
- Bernardo Gomes, professor e director da Escola EBU Pública de Iniciativa Comunitária “Tomás Nanhungue” de Tame
- Carlos Mário Nhaga, professor e técnico da UAP de Canchungo – Pólo de Língua Portuguesa do Instituto Camões em Canchungo
- Maria de Lurdes Évora, professora e directora da Escola ADRA de Canchungo
- Pedro Almeida, técnico-formador da FEC – Fundação Evangelização e Culturas (Lisboa, Portugal)

3º a 21.08.2008, com o tema “A presença da Língua Portuguesa na Comunidade – quem é que fala Português?”, com os seguintes convidados em estúdio:
- Clemente Mendes, da bankada Andorinha em Caroncã
- Eduardo Gomes, da bankada Andorinha em Betame em Canchungo
- Josimar Gomes, da bankada Andorinha em Tchada em Canchungo
- Julaica Baticã Ferreira, da bankada Andorinha em Pindai em Canchungo
- Martinho Alves, da bankada Andorinha em Huambo em Canchungo
- Quintino da Silva, da bankada Andorinha do quartel do 2º Batalhão de Infantaria “Saco Vaz” em Canchungo
- Regina Rosário António Upa, presidente da bankada Andorinha em Cajegute (Caió)

4º a 06.11.2008, com o tema “Os bibliotecários da Região de Cacheu – que contributo para a promoção da Língua Portuguesa”, com os seguintes convidados em estúdio:
- Augusto da Silva, bibliotecário e professor na Escola Prof. Antero Sampaio em Canchungo
- Avenário Gomes, bibliotecário na Escola Jovens Sem Fronteiras em Caió
- Bambi Vasconcelos, bibliotecário e professor na Escola Prof. Antero Sampaio em Canchungo
- Chocola Gomes, bibliotecário na Escola Jovens Sem Fronteiras em Caió
- Etelvino Gomes, bibliotecário na Biblioteca de Cacheu
- Mário Mendes, bibliotecário no Liceu Daniel Brottier em Calquisse
- Vitória Mendes, bibliotecária do Centro de Desenvolvimento Educativo de Canchungo

5º a 11.12.2008, com o tema “Os poetas de nova geração em Língua Portuguesa”, com os seguintes convidados em estúdio:
- Fátima Mancal
- Francisca Romão Gomes
- Luís Óscar Pereira
- Lurdes Mendes Mantenque
- Puliquério João da Costa

6º a 15.01.2009, com o tema “Os Verbos” e contou com o professor Paulo Francisco Gomes e os seus alunos seleccionados de duas turmas da 5ª Classe da Escola Prof. Antero Sampaio: Chaviana da Silva, Iama Mendes, Jorge Fernando Gomes, Paulo Gomes, Barnabé Quintino Manga, Luís Gomes, Mama Sambú e Maria Catarina Mendes.

7º a 12.02.2009, repetindo o tema “Ser professor de Língua Portuguesa na Guiné-Bissau”, com os seguintes convidados em estúdio:
- Domingos Duque Olenca, professor e director da EBU “24 de Setembro” em Cancchungo
- Ernesto Baticã Ferreira, professor e director da Escola 1º de Junho em Canchungo
- Herculano Luizinho Vaz, professor e director do Liceu Regional Hô Chi Minh em Canchungo
- Iaia Mancal, professor e vice-director da Escola Prof. Antero Sampaio em Canchungo
- Susana António Gomes, professora e directora da EBE de Catchobar

8º a 12.03.2009, com o tema “A Língua Portuguesa e a Emigração para Portugal”, com os seguintes convidados em estúdio:
- Dapuar da Costa
- Domingos Mendes
- Francisco Major Mendes
- Mamadi Injai (Wié)
- Mário Danty
- Paulo Nienaber
- Thomas Mendy

domingo, 15 de novembro de 2009

Administração Pública da Guiné


[...] a Administração Pública da Guiné começa a ser efectivamente instalada no território desta ex-colónia no século XIX, e é, dizemos agora, durante esse século que se inicia verdadeiramente a ocupação do território, com a consequente dominação política.
[...] uma análise atenta da história da colonização da Guiné neste século, certamente nos demonstrará o papel que essa Administração exerceu com o objectivo de criar as condições necessárias e suficientes para a integração no sistema político-económico dominante na metrópole colonial das estruturas político-sociais e económicas guineenses.
Tais condições passaram necessariamente pelas campanhas de pacificação levadas a cabo nesse século, nomeadamente as dirigidas por Teixeira Pinto, monetarização da economia, nomeadamente através da instituição do trabalho forçado e da privatização da terra, acções que o novo sistema administrativo teve de desencadear ou de apoiar para poder prosseguir os seus objectivos político-económicos.
Com a instalação deste sistema de administração pública, cujo aperfeiçoamento foi sendo feito a partir da criação da província, um novo período da história colonial é inaugurado, o período colonial, podendo-se então falar, com propriedade, da colónia, político-administrativamente dependente da metrópole, e cuja estrutura económica começa a ser aceleradamente integrada na economia metropolitana.
[“Cacheu, Ponto de Partida Para a Instalação da Administração Colonial na Guiné” Wladimir Brito, “Mansas, Escravos, Grumetes e Gentio – Cacheu na encruzilhada de civilizações”, Actas do Colóquio «Cacheu, Cidade Antiga», realizado em Cacheu, de 22 a 24 de Novembro de 1988, editadas por Carlos Lopes, INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, p. 249-273]

sábado, 14 de novembro de 2009

Diário VIII


«A terceira excursão, já para se deixar uma das equipas no terreno, foi a Bafatá. Levava a expectativa de todos afirmarem ser a cidade mais bonita da Guiné-Bissau. Para se chegar, significa mais uma estrada em quilómetros e quilómetros completamente rebentada – a nossa carrinha é uma Tata, com origem na Índia, de dupla cabine e caixa aberta, longe do conforto que outros todo-o-terreno proporcionam! Com o que deparo é uma mais uma povoação cuja beleza e encanto aparece como um vestígio, que se consegue adivinhar no passado, à mistura com a actual destruição, incúria, desleixo, pobreza!
Em cada deslocação, é também a oportunidade de ver as populações, as gentes da Guiné-Bissau. Porque estão presentes ao longo das estradas, deslocando-se a pé pelas bermas, junto a casas à beira da estrada, nas bolanhas cultivando o arroz. Salta à vista a diversidade de etnias; e, apesar de haver etnias predominantes em determinadas regiões, por todo o lado se misturam. Assim, apesar de serem todos negros, o que ressalta é uma diversidade de cores, pelos diferentes trajos e utensílios.» [15.10.2006]

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Andorinha - Novo Acordo Ortográfico


De 18 de Setembro de 2008 a 29 de Janeiro de 2009, foi realizada uma rubrica sobre o Novo Acordo Ortográfico pela Língua Portuguesa, respondendo a diversas solicitações sobre o tema colocadas pelos ouvintes.
[CASTELEIRO, JOÃO MALHOA; CARREIRA, PEDRO DINIS (2008). “O novo acordo ortográfico. O que vai mudar na grafia do português. Texto Editora, Cacém.]

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Poeta noba gerason!


A MORTE

Morte se és uma coisa que tem olhos
Não ias matar o nosso herói,
Veja o que está acontecendo no nosso País.
Se estava aqui o Amílcar Cabral,
não seria assim o nosso País
um País democrático assim com violências,
Agora o Amílcar Cabral
já não é ninguém.

Francisca Romão Gomes, 5ª Classe, Escaola Prof. Antero Sampaio, 2007-2008, Canchungo

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Uma comunidade em Língua Portuguesa


De um lado, um idioma que nos cria raiz e lugar. Do outro, um idioma que nos faça ser asa e viagem.
Mia Couto, escritor moçambicano

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Diário VII


«A segunda excursão foi a Quinhamel, na margem de um rio ou braço de mar. Mas a paragem foi num resort turístico de franceses ou libaneses, quando a pouca distância haveria algo certamente mais interessante: os guineenses comemoram os seus 33 anos de independência com festa, comes e bebes, batucada e danças.
Continua a ser uma oportunidade de olhar as paisagens por terra. As características são de savana, de arbustos baixos mas densos, pontuado por diversas árvores espaçadas, altas e imponentes. Isto quando não surgem extensos vales de campos alagados de arroz, bolanhas.» [15.10.2006]

domingo, 8 de novembro de 2009

Andorinha - bankada


A 10 de Julho de 2008, iniciamos uma nova rubrica para apresentar notícias da ideia de se formarem grupos informais – as bankadas – para falarem a Língua Portuguesa – ou seja, praticarem a oralidade e ultrapassarem o receio de falarem em português! – que entretanto começaram a surgir em diferentes bairros de Canchungo e também em algumas tabankas, em ligação ao programa radiofónico Andorinha...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Escola Pública de Iniciativa Comunitária


As Escolas Públicas de Iniciativa Comunitária são características sobretudo da Região de Cacheu – são 50 das 119 escolas existentes nos Sectores de Bula, Cacheu, Caió, Calquisse e Canchungo. São escolas de iniciativa comunitária por diversos factores: o principal é que foram construídas pela própria Comunidade onde se inserem, através da respectiva Associação, respondendo a uma necessidade que não era realizada pelas estruturas oficiais regionais e nacionais de Educação. Ao mesmo tempo são escolas públicas porque a mesma Comunidade-Associação, depois de construídas e apetrechadas as salas de aula com as carteiras e quadro negro, as entrega à Direcção Regional de Educação (Ministério da Educação) para que nomeadamente o ensino possa ser reconhecido, bem como o vínculo dos professores efectivos e contratados.
São igualmente escolas de iniciativa comunitária porque a Associação-Comunidade paga um subsídio aos professores, sobretudo a pensar nos professores contratados, que é o que permite que as aulas se iniciem em Outubro – atenuando os constrangimentos que em alguns anos se regista para o Ministério da Educação decretar a abertura oficial do ano lectivo e evitando as greves a que a os professores se vêm obrigados a praticar para verem realizados alguns dos seus direitos salariais! Quando esse subsídio provém do orçamento geral da associação de tabanka, da quotização global dos seus associados, representa um empenho e compromisso de toda a comunidade para com a sua Escola; quando o subsídio provém dos pais que têm alunos na escola poderá pôr em causa o princípio do ensino universal e gratuito consagrado na própria constituição da república mas não deixa de vincar um compromisso da comunidade para viabilizar a sua Escola.

São escolas de iniciativa comunitária porque são apoiadas pelas Associações de tabanka, que após a entrega como escola pública, no início dos anos 2000, ao longo dos anos subsequentes se têm mantido como o principal suporte da Escola . É de salientar que a força destas Associações reside na capacidade de mobilizarem e canalizarem os montantes dos seus associados, não só dos residentes na tabanka mas, pormenor mais importante, também dos denominados “filhos da tabanka”, ou seja, migrantes e emigrantes , que quer estejam nas tabankas vizinhas ou em Canchungo ou em Bissau, ou em Ziguinchor ou Dakar (Senegal), na Gambia, Guiné-Conakry ou Cabo Verde, ou na Europa (Portugal, Espanha, França, Inglaterra), não deixam de pagar as respectivas quotas e assim participarem na definição e apoio das necessidades da sua terra! De notar que os “filhos da tabanka” na Europa, nomeadamente em Portugal, se constituem como associações autónomas, legalizadas como associações locais nos concelhos onde residem maioritariamente, com relações e apoio por parte da ACIME – Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (como são o caso da AFDAC – Associação dos Filhos, Descendentes e Amigos de Canhobe, da ANPRP – Associação dos Naturais de Pelundo Residentes em Portugal, da AENT – Associação dos Emigrantes e Naturais de Tame).
Este esforço e montantes efectuados através destas Associações não só possibilitaram a construção das escolas em cada tabanka, como igualmente de Postos de Saúde (Cabienque, Pelundo, Canhobe), ou disponibilizarem uma descascadora mecânica de arroz (Cabienque), para além de se constituírem parceiros de projectos financiados por outras entidades (UNICEF, Cooperação Francesa, USAid, Action Aid).

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Diário VI


«A primeira excursão foi a Mansoa, uma das localidades onde trabalhamos e onde está uma colega. O que inclui a visita ao seu local de trabalho: a Rádio Sol Mansi, uma rádio local.
Foi a oportunidade de começar a conhecer as estradas. As principais vias são alcatroadas mas melhor seria não o serem: vão abrindo buracos, de diversos diâmetros, que dos mais pequenos a crateras, obrigam a uma condução cansativa, em ziguezagues, procurando evitar os buracos ou, sem alternativa, procurando escolher os melhores para atravessar. Com imensas rectas em savana, é por vezes como que um baile em câmara lenta ver ao longe alguns dos diversos veículos movimentarem-se em ziguezague, na sua condução de procurarem os melhores locais de passagem!» [15.10.2006]

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Andorinha - poesia, texto, conto


No espaço para a cultura em Língua Portuguesa, na componente da poesia, apresentamos autores portugueses (David Mourão Ferreira, Vasco Graça Moura, Miguel Torga), autores guineenses (António Baticã Ferreira, Amílcar Cabral, Eunice Borges, Tony Tcheka), autores da CPLP (Vinicius de Moraes, Odete Costa Semedo, Alda Lara), e autores locais, intitulados poetas de nova geração (Aissatú Mendes, Francisca Romão Gomes, Puliquério João da Costa, Dojuste Francisco Mendes, Roménia Francisco Gomes) – sempre que possível, com poemas declamados pelos próprios autores em gravação.
Na componente de texto, apresentamos António Graça de Abreu (“Diário da Guiné – Lama, Sangue e Água Pura”), Juvenal Cabral (“Memórias e Reflexões”), Caetano Veloso (“Verdade Tropical”), António Carreira (“Vida Social dos Manjacos”).
A partir de 27 de Novembro de 2008 passamos a apresentar as obras que existem à disposição dos ouvintes no Centro de Desenvolvimento Educativo em Canchungo – uma vez que sentimos a frustração de quem não podia aceder a obras que estávamos a revelar!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Toka tchur


CHORO
Jan Muá


"A mim vai na tchoro"
Lá no Canchungo
Et! Batassa
Eh parente
Tam-tam
Eh bombolom...

Eh barro branco da bolanha
Eh máscara cinza

Eh Batassa
Eh irmão
A bó muita mantenha
Eh tripa de vaca
Eh dança
Eh inselência
Eh morto
Eh silêncio
Eh Barsi
Eh irã da morte
Eh vida
Eh vós verdadeiros
Que estais ainda chorando
A parentela
Eh Batassa
Tam-tam...
Am...am...

Jan Muá
Canchungo 1964

______


Este é um poema integrado no gênero da "Etnopoesia"


GLOSSÁRIO

"Choro" -conjunto de rituais celebrados por ocasião do falecimento de uma pessoa na etnia dos povos animistas na Guiné-Bissau
"Batassa": uma das famílias principais entre os manjacos, do grupo brame.
"bombolom": intrumento musical, espécie de tamborim tirado do côncavo do tronco de uma árvore
"inselência": era uma parte dos rituais do choro em que se lembravam os nomes dos falecidos da família, quase uma ladainha
"Barsi" - deus entre os Brames
"bolanha" - várzea para arroz, arrozal
"irã" -demiurgo ou intermediário entre a divindade superior e os humanos entre os povos animistas da Guiné
"mantenha" - saudação, em crioulo
"Canchungo" - cidade da região dos manjacos, conhecida entre os portugueses pelo nome de Teixeira Pinto

[retirado de www.usinadeletras.com.br]

domingo, 1 de novembro de 2009

Diário V


«Visitamos Bissau Velho, junto a um porto pequeno, de onde se vê o mar. Em vestígios nota-se que é um conjunto de edifícios de traça bonita, que deveria ser muito elegante. Mas para além da destruição, provoca novamente aquela sensação de angústia pelo desleixe e completo desmazelo. [Há ruínas por esse Mundo fora que mantêm toda a elegância, por vezes uma maior dignidade] O exemplo mais chocante ou repugnante é aquelas águas pútridas que escorrem de esgotos que rebentaram, sem que ninguém aparentemente se importe!
O porto é demasiado pequeno para a capital de um país costeiro, atlântico, e com a maré baixa, como estava, com uma extensão de lodo, não creio que haja condições para qualquer embarcação entrar – quanto mais os navios que pertencerão a um porto importante. Dakar deverá ser o aglutinador do tráfego marítimo da zona.
E o mar não tem aspecto de qualquer oceano, nem Atlântico, mais parecendo um qualquer curso de águas mansas paradas!» [15.10.2006]

sábado, 31 de outubro de 2009

Citação - Língua Oficial


«Na maioria das escolas do ensino primário da Guiné-Bissau não é utilizada a língua portuguesa, mas são repetidos estereótipos e palavras que para os alunos e, às vezes, para o próprio professor são símbolos linguísticos vazios que devem ser memorizados.» Luigi Scantamburlo
«Uma grande parte das crianças que entram para a primeira classe da instrução primária não termina a quarta classe. O Português, língua que a maioria esmagadora dessas crianças não fala, é causador nº 1 dos fracassos escolares.» Duarte Dulce Almada «Mas nem por isso deixamos de ter necessidade das línguas europeias nas relações inter-africanas, nas relações com o exterior em geral, e como meio de acesso a um certo tipo de conhecimento que as nossas línguas não escritas ainda não podem transmitir.»
- Luigi Scantamburlo, in “Dicionário do Guineense – Volume I – Introdução e notas Gramaticais”

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Andorinha - Depoimentos gravados


Desde o início do programa que a introdução de depoimentos gravados – pequenas entrevistas com a duração de cerca de cinco minutos – se tem revelado um modo de trazer a estúdio a voz de diversas personalidades e instituições.
No programa inicial, fomos perguntar a opinião sobre a ideia de um programa de promoção da Língua Portuguesa e da cultura em Língua Portuguesa a dois cidadãos que nasceram a falarem o português e que estão há mais tempo em Canchungo: o Sr. Orlando e o Padre Henriques. O Sr. Orlando chegou à Guiné-Bissau em 1965 e a Canchungo em finais de 1969 – o que significa cerca de 40 anos. O Padre Henriques chegou a Canchungo em Outubro de 1970 e apenas teve uma pausa de 8 anos em Bissau, ou seja, é cidadão de Canchungo há 30 anos.
Desde então, continuamos a sair para a rua em Canchungo à procura de pessoas que afirmam gostarem da Língua Portuguesa e da Cultura em Língua Portuguesa:
 Marta da Costa, professor da Escola de Ensino Básico Unificado
 Bernardo Gomes, professor e director da Escola EBU Pública de Iniciativa Comunitária de Cabienque
 Bráima Conté, professor e director da Escola EB Pública de Iniciativa Comunitária de Pelundo
 Madalena Lopes, professora da Escola EBU Pública de Iniciativa Comunitária “Tomás Nanhungue” de Tame
 Alexandre Injai, professor da Escola EB Pública de Iniciativa Comunitária de Pelundo e presidente da AFIPEL – Associação dos Filhos de Pelundo
 Ailton Mendonça, professor da Escola EBU Pública de Iniciativa Comunitária “Tomás Nanhungue” de Tame
 Clemente Mendes, voluntário da AGUIBEF – Associação Guineense para o Bem-Estar da Família
 Teresa Coioté, aluna da Escola da ADRA
 Ansum Toré, homem-grande que habitualmente está no Mercado
 Manuel Iaia Mancal, professor e vice-director da Escola Prof. Antero Sampaio
 Mutaro Tunkará, Delegado Regional do CENFA
 Eduardo Gomes de Betame, aluno no Liceu Regional Ho Chi Minh
 Ciro João Gomes, técnico de oficina auto
 Ernesto Baticã Ferreira, professor e director da Escola 1º de Junho
 José Bohan Bissorã, do 2º Batalhão de Infantaria “Saco Vaz”
 Upa Calipande Gomes, Presidente de ASPECOCA – Associação dos Pequenos Comerciantes de Canchungo
 Mana Nina, responsável de Saúde da Família na Região de Cacheu
 Yofân Sambú, professor e director da Escola Pública de Iniciativa Comunitária “Prof. Henrique Bamba Ferreira” de Canhobe
 Puliquério João da Costa, jornalista radiofónico e poeta em Língua Portuguesa
 Braima Caiote, professor na Escola Pública de Iniciativa Comunitária “Prof. Henrique Bamba Ferreira” de Canhobe
 Usta Pina Mango, secretária dos Jovens Parlamentares em Canchungo
 Joseph Gomes, professor na Escola Pública de Iniciativa Comunitária “Tomás Nanhungue” de Tame
 Augusto Mango, secretário executivo da CONGAI – Confederação das Organizações não Governamentais e Associações Intervenientes ao Sul do Rio Cacheu
 Nadini José Bandanhi, ex-educadora de infância na Escola Adventista de Betel em Bissau e agora estudante universitária em Colinas de Boé em Bissau, curso de Gestão e Contabilidade
 Augusto da Silva, professor e bibliotecário na Escola Prof. Antero Sampaio
 Carlos Indi Nogueira, professor na Escola Adventista de Bolama
 Alcino Cirilo Simão Dias, aluno da Escola Normal Superior Tchico-Té, 2° ano, especialidade de Língua Portuguesa
 Lurdes Mendes Pereira, aluna da Escola Normal Superior Tchico-Té, especialidade de Língua Portuguesa
 Paulino da Silva, professor do Liceu Regional Hô Chi Minh
 Upá Ferreira, porta-voz dos finalistas do ano lectivo 2007/2008 do Liceu Regional Hô Chi Minh
 Djaques Djompé, professor de Língua Portuguesa no Liceu Regional Hô Chi Minh
 Aeno Duarte Sampaio, professor e director do Complexo Escolar Sto. Agostinho
 Petran Jatan, finalista da 11ª Classe do Liceu Regional Hô Chi Minh
 Fabriciana Saco Nancassa, finalista da 11ª Classe do Liceu Regional Hô Chi Minh
 Cirilo Sanhá, técnico-formador da FEC a desenvolver o projecto +Escola nas Escolas Públicas de Iniciativa Comunitária de Cabienque, Pelundo, Tame e Canhobe
 Glória Castelhano, técnico-formador da FEC a desenvolver o projecto +Escola nas Escolas Públicas de Iniciativa Comunitária de Cabienque, Pelundo, Tame e Canhobe
 Alberto Cagitare Mendes, professor de francês no Liceu Regional Hô Chi Minh em Canchungo
 Vicente Maria Vaz, professor de francês no Liceu Regional Hô Chi Minh em Canchungo e Presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos do Sector de Canchungo
 Feliciano Gomes (Kuka), professor na Escola Prof. Antero Sampaio e presidente da ASA – Associação para a Solidariedade e Acção em Canchungo
 Mário Mendes, professor na Escola Prof. Antero Sampaio
 António Bedane, inspector-formador da Direcção Regional de Educação de Cacheu
 José Augusto da Silva, professor na Escola Prof. Antero Sampaio
 Simão Leitão, gestor do projecto +Escola a decorrer nas Escolas Públicas de Iniciativa Comunitária de Cabienque, Pelundo, Djita, Tame e Canhobe
 Diunisius Barbosa, professor de Alfabetização na Escola Prof. Antero Sampaio
 Galileu Fernando Gomes, presidente da Associação de Estudantes do Liceu Regional Hô Chi Minh
 Laiete Mendes, professora da Escola Pública de Iniciativa Comunitária de Cabienque
 Estevão Faustino Mendes, da COAJOQ – Cooperativa Agro-Pecuária de Jovens Quadros
 José Soares Cardoso, aluno da 11ª Classe no Liceu Regional Hô Chi Minh
 Nelson Pinto Cá, assistente social na SOS Aldeia de Crianças
 Samper Vasconcelos Mendes, professor e director do Liceu Regional Hô Chi Minh
 Lamine da Costa, professor do Liceu Regional Hô Chi Minh
 João Baptista Mendes, aluno do Liceu Regional Hô Chi Minh
 Joaquim Vicente Gomes, professor da Escola ADRA Adventista

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Diário IV


«Em absoluto contraste, o nosso destino, a Pensão Central, surge de imediato como um oásis! Um edifico dos anos 50, de três andares, com larga varanda coberta rodeando todos os andares.
E apresentam-me uma personagem que se percebe de imediato ser o espírito carismático deste espaço: a D. Berta – ou mais carinhosamente tratada como Avó Berta. Uma mulher caboverdiana, baixa, pequena, de rosto lindíssimo – de idade existência indefinida. A sala de refeições tem nas paredes diversas homenagens, onde se inclui uma foto com Pedro Pires ex-Presidente de Cabo Verde ou a condecoração do então presidente da República Portuguesa Mário Soares com a Medalha de mérito!
Durante os nossos dias de estadia nesta capital, é o nosso refúgio mais confortável e simpático. Não há água corrente e à noite a electricidade pode falhar mas as refeições são como numa casa familiar e aquela varanda de sombra é um encanto. A nossa organização tem aqui uma sala alugada de trabalho e é como se fosse a nossa sede em Bissau. Em frente está um edifício dos CTT, idêntico a tantos outros que existem pelas cidades portuguesas; é aí, e somente aí, na caixa postal 213, que chega o nosso correio!» [15.10.2006]

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Economia dissipativa


Ulrich Schiefer propôs o conceito de «economia dissipativa» para caracterizar a desestruturação do estado e da sociedade na Guiné-Bissau. É «um tipo de economia local (cujo setor moderno quase nada produz de forma independente) para a qual são canalizados recursos externos que ali são dissipados – desperdiçados, afundados, dissolvidos no nada» (Schiefer 1999).
[“Processos de Transição na África Lusófona” Johannes Augel e Peter Meyns, Soronda – Revista de Estudos Guineenses, Nova Série nº 5, Julho 2002, p. 7-50]

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Andorinha III - Componente da Língua Portuguesa


Esta rubrica tem sido mantida como a alma do programa, procurando apresentar diversos conteúdos da Língua Portuguesa, sobretudo na sua componente gramatical .
Neste sentido, desde o início do programa foram abordados os seguintes temas: elaboração de um diálogo, formas de frase (afirmativa e negativa), flexão dos substantivos (flexão de número – singular e plural, flexão de género), o artigo (noção e funcionamento), adjectivos (noção e funcionamento), os pronomes (noção e funcionamento), sílabas e acentos tónicos, os numerais, sinais de pontuação, voz activa e voz passiva, os advérbios (noção e classificação), modos de apresentação do discurso (discurso directo, discurso indirecto e discurso indirecto livre), a frase, as preposições, as conjunções, elementos fundamentais da oração, o predicado, os verbos, o sujeito, complemento directo e indirecto, conceito de literatura, figuras de estilo.
[ARRUDA, LÍGIA (2004). “Gramática de Português para estrangeiros”. Porto Editora, Porto; BORREGANA, ANTÓNIO AFONSO (2000). “Gramática Portuguesa – Língua Portuguesa”. Texto Editora, Porto, Abril de 2000; ROCHA, ANA (2006). “Gramática Elementar de Português”. Editora Replicação, Lisboa.]

domingo, 25 de outubro de 2009

Diário III


A avenida do Aeroporto à cidade proporciona a primeira impressão de Bissau, a capital. São dezenas de diferentes carros de transporte de pessoas (como gado), de táxis a carrinhas, onde apesar de cheios sempre se consegue mais um espaço para mais um passageiro, apertando aqui e ali. Milhares de pessoas povoam as margens, como vendedores ou estando em espaços de lojas, que se aglomeram ao longo desta extensa avenida. O que se vende, é um pouco de tudo; tudo o que parece existir no Mundo como produtos, aqui existe! A apresentação, disposição, é caótica, aglomerados, empilhados; transmitem aquela vitalidade de comércio que para os parâmetros ocidentais poderá ser incompreensível. E o que mais impressiona, ou salta à vista é a quantidade de edifícios, casas e pequenos prédios ou armazéns, arruinados - como que destruídos por uma guerra, que não chegou a fazer estes estragos. Será uma mistura de incúria, desleixo, pobreza, caos! [15.10.2006]

António Baticã Ferreira


António Baticã Ferreira nasceu em Canchungo (Guiné-Bissau) em 1939. Fez os estudos liceais em Paris e licenciou-se em Medicina na Universidade de Lausana- Suíça.

A FONTE

I

Eis-me perto da Fonte, muito perto.
Vejo brotar a água,
Uma água clara e límpida,
Boa, amável!

Eis a Fonte:
Fica perto de Badiopor.
Junto dela nasci:
Eis a Fonte da minha infância.

Sim, eu amo essa Fonte,
Admiro-a,
Brinco,
Eu e meus irmãos, à sua beira.

Fica, fica perto de Badiopor,
Desse lugar quase sagrado,
Desse lugar ensombrado;
Badiopor, fonte de nossas almas.

A sua água nos atrai,
E acarinha-nos.
Vemo-la noite e dia;

E a Fonte que está mais perto.

Olha: a água a brotar da nascente,
Como de fonte,
Como um regato!

(Sim, parece-se mais com um regato.)


II

Mais pequena ainda que a Fonte,
É a nascente onde tudo vem beber.
A nascente, nossos pais, amamo-la.
Nossa.

A nascente é fonte das árvores e das folhas.
Olhamos a nascente, o ribeiro,
Manancial de nossos pais.

É verdade:

Esta Fonte é mui antiga,

Nascente da Tradição,
Fonte da Historia; eis
O manancial do Reino,
Tão perto de Badiopor!

Bem me lembro:
Ha muito que ela se conserva no mesmo lugar,
Manando água cristalina.
Eis, eis a Fonte do Reino.

Ela protege-nos,
Ela é a alma das crianças;
Fonte do Reino, força nossa,
Ela é a nossa protectora.

As chaves do Reino onde estão?

Nessa Fonte,
Onde meus irmãos e eu vemos às vezes monstros
E trememos então de medo,
Ou choramos.

(Nós, filhos do Reino,
Nos, príncipes desse seu Reino.)


III

É verdade, como príncipes,
De tudo cantamos,

Nos, príncipes de Baboque
Bem amados,
Pelo sangue
Oriundos daquele Rei,

Daquele que é Rei dos Reis;
Nos que vimos do seu Reino,
De todos o mais poderoso e vasto,
Como o Reino de Baçarel.

(E Baçarel é um grande Reino,
Onde príncipes vêm a luz;
Baçarel, terra bem nobre,
Seu lugar de nascimento.)

Andorinha II - Música em Língua Portuguesa


Desde o início deste programa, toda a música a ouvir será cantada em Língua Portuguesa. Música produzida em Portugal e no Brasil, e sempre que possível de outros países da CPLP. Alguma da música de Portugal tem surpreendido porque é Hip Hop, Rap e Reggae de músicos de segunda e terceira geração de angolanos, cabo-verdianos ou guineenses com nacionalidade portuguesa (luso-africanos) e nascidos em redor de Lisboa.
 de Portugal: Amália Rodrigues, António Variações, Black Company, Black Out, Boss AC, Buraka Sound System, Carlos do Carmo, Carlos Paredes, Chullage, Contrabando, Cool Hipnoise, Da Weasel, Danças Ocultas, Dealema, Expensive Soul, Fernando Tordo, Filhos da Madrugada, Gaiteiros de Lisboa, General D, GNR, Janita Salomé, José Peixoto & Fernando Júdice, João Lóio, Jorge Palma, Kussondulola, Madredeus, Mafalda Arnauth, Maria João & Mário Laginha, Mars One, Melo D, Mercado Negro, Micro, Mind A Gap, Mundo Complexo, Mundo Secreto, Né Ladeiras, Pedro Abrunhosa, Prince Wadada, Raúl Marques & Os Amigos da Salsa, Resistência, Ruas, Rui Júnior, Sagas, Sam The Kid, Sérgio Godinho, Serial, Sr. Alfaiate, Terrakota, Valete, Variações, Xutos e Pontapés;
 do Brasil: Adriana Calcanhoto, Caetano Veloso, Chico Buarque, Chico Science & Nação Zumbi, Clara Nunes, Elis Regina, Gabriel o Pensador, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Maria Rita, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Tom Zé, Vinicius de Moraes, Virgínia Rodrigues;
 de Cabo Verde: Cesária Évora, Djuruman, Hermínia, Ildo Lobo, Travadinha, Tubarões;
 de Moçambique: Eyuphuro, Ghorwane.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Diário II


«No Aeroporto, a espera recolha de bagagens é um exercício caótico! Apenas porque o tapete rolante é pequeno e aglomeram-se todos os passageiros de um avião grande e todos trazemos muita bagagem – a nós como ONG foi-nos permitido o máximo de 50 quilos. A forte chuvada ensopou todos os sacos que não iam prevenidos enrolados em plástico – como os nossos!
Havia algumas mãos que ajudavam por ali. E depressa se descobriu que eram motoristas de táxi, que ao mesmo tempo sussurravam se não necessitávamos de táxi. [Um dos motoristas começou a meter conversa comigo – mais tarde, já na varanda da Pensão Central oiço um táxi parar na rua e apitar, azul e branco no tejadilho, como todos os táxis, e vejo o condutor acenar o braço e deitar a cabeça de fora pela janela: reconheço o taxista!]
Cá fora para se chegar com a bagagem à nossa carrinha estacionada do outro lado da estrada, procurando atravessar o tráfico de carros e os charcos de água, fomos ajudados por um enxame de miúdos atenciosos … que pedem moedas – não sei se algum de nós lhes deu.» [15.10.2006]

Citação I - Língua Portuguesa na Guiné-Bissau


«Há números que apontam para 5% da população que fala Português, no recenseamento de 1979, e outros para 10%, no recenseamento de 1991 (Scantamburlo, 1999: 62). Não há, infelizmente, estudos mais recentes sobre esse assunto, mas penso que é por demasiado evidente que a situação da Língua Portuguesa na Guiné-Bissau em nada se compara com os restantes países lusófonos africanos: é, sem dúvida, o PALOP onde se fala menos português. Basta circular pelas ruas de Bissau para nos apercebermos desta dura realidade.
Devido ao facto de ser a língua oficial, o Português é o idioma de ensino. É também a língua de produção literária, da imprensa escrita, da legislação e administração. Deparamo-nos, então, com este paradoxo: tudo está escrito em Português, mas uma parte esmagadora da população não domina a língua. As crianças são alfabetizadas numa língua que não ouvem, nem em casa nem na rua, e só quando comunicamos com a elite politica e intelectual guineense conseguimos estabelecer comunicação em Português. O grande problema da Língua Portuguesa neste país é, a meu ver, não passar da escrita para a oralidade.
(…)
Dado que a rádio é o único meio de comunicação que chega a todos os guineenses, parece-me fundamental uma aposta em programas radiofónicos que divulguem a Língua Portuguesa; em suma, uma aposta na oralidade.»
- Ana Paula Robles, Instituto Camões na Guiné-Bissau
[ROBLÉS, ANA PAULA (2006). O ensino da Língua Portuguesa no ensino superior: a situação da Guiné-Bissau. Ubuntu, nº 3, Dezembro 2006, Bissau, p. 21-24.]