«Que o teu filho viva amanhã no mundo dos teus sonhos»
Amílcar Cabral, Outubro de 1944

postal

sábado, 31 de outubro de 2009

Citação - Língua Oficial


«Na maioria das escolas do ensino primário da Guiné-Bissau não é utilizada a língua portuguesa, mas são repetidos estereótipos e palavras que para os alunos e, às vezes, para o próprio professor são símbolos linguísticos vazios que devem ser memorizados.» Luigi Scantamburlo
«Uma grande parte das crianças que entram para a primeira classe da instrução primária não termina a quarta classe. O Português, língua que a maioria esmagadora dessas crianças não fala, é causador nº 1 dos fracassos escolares.» Duarte Dulce Almada «Mas nem por isso deixamos de ter necessidade das línguas europeias nas relações inter-africanas, nas relações com o exterior em geral, e como meio de acesso a um certo tipo de conhecimento que as nossas línguas não escritas ainda não podem transmitir.»
- Luigi Scantamburlo, in “Dicionário do Guineense – Volume I – Introdução e notas Gramaticais”

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Andorinha - Depoimentos gravados


Desde o início do programa que a introdução de depoimentos gravados – pequenas entrevistas com a duração de cerca de cinco minutos – se tem revelado um modo de trazer a estúdio a voz de diversas personalidades e instituições.
No programa inicial, fomos perguntar a opinião sobre a ideia de um programa de promoção da Língua Portuguesa e da cultura em Língua Portuguesa a dois cidadãos que nasceram a falarem o português e que estão há mais tempo em Canchungo: o Sr. Orlando e o Padre Henriques. O Sr. Orlando chegou à Guiné-Bissau em 1965 e a Canchungo em finais de 1969 – o que significa cerca de 40 anos. O Padre Henriques chegou a Canchungo em Outubro de 1970 e apenas teve uma pausa de 8 anos em Bissau, ou seja, é cidadão de Canchungo há 30 anos.
Desde então, continuamos a sair para a rua em Canchungo à procura de pessoas que afirmam gostarem da Língua Portuguesa e da Cultura em Língua Portuguesa:
 Marta da Costa, professor da Escola de Ensino Básico Unificado
 Bernardo Gomes, professor e director da Escola EBU Pública de Iniciativa Comunitária de Cabienque
 Bráima Conté, professor e director da Escola EB Pública de Iniciativa Comunitária de Pelundo
 Madalena Lopes, professora da Escola EBU Pública de Iniciativa Comunitária “Tomás Nanhungue” de Tame
 Alexandre Injai, professor da Escola EB Pública de Iniciativa Comunitária de Pelundo e presidente da AFIPEL – Associação dos Filhos de Pelundo
 Ailton Mendonça, professor da Escola EBU Pública de Iniciativa Comunitária “Tomás Nanhungue” de Tame
 Clemente Mendes, voluntário da AGUIBEF – Associação Guineense para o Bem-Estar da Família
 Teresa Coioté, aluna da Escola da ADRA
 Ansum Toré, homem-grande que habitualmente está no Mercado
 Manuel Iaia Mancal, professor e vice-director da Escola Prof. Antero Sampaio
 Mutaro Tunkará, Delegado Regional do CENFA
 Eduardo Gomes de Betame, aluno no Liceu Regional Ho Chi Minh
 Ciro João Gomes, técnico de oficina auto
 Ernesto Baticã Ferreira, professor e director da Escola 1º de Junho
 José Bohan Bissorã, do 2º Batalhão de Infantaria “Saco Vaz”
 Upa Calipande Gomes, Presidente de ASPECOCA – Associação dos Pequenos Comerciantes de Canchungo
 Mana Nina, responsável de Saúde da Família na Região de Cacheu
 Yofân Sambú, professor e director da Escola Pública de Iniciativa Comunitária “Prof. Henrique Bamba Ferreira” de Canhobe
 Puliquério João da Costa, jornalista radiofónico e poeta em Língua Portuguesa
 Braima Caiote, professor na Escola Pública de Iniciativa Comunitária “Prof. Henrique Bamba Ferreira” de Canhobe
 Usta Pina Mango, secretária dos Jovens Parlamentares em Canchungo
 Joseph Gomes, professor na Escola Pública de Iniciativa Comunitária “Tomás Nanhungue” de Tame
 Augusto Mango, secretário executivo da CONGAI – Confederação das Organizações não Governamentais e Associações Intervenientes ao Sul do Rio Cacheu
 Nadini José Bandanhi, ex-educadora de infância na Escola Adventista de Betel em Bissau e agora estudante universitária em Colinas de Boé em Bissau, curso de Gestão e Contabilidade
 Augusto da Silva, professor e bibliotecário na Escola Prof. Antero Sampaio
 Carlos Indi Nogueira, professor na Escola Adventista de Bolama
 Alcino Cirilo Simão Dias, aluno da Escola Normal Superior Tchico-Té, 2° ano, especialidade de Língua Portuguesa
 Lurdes Mendes Pereira, aluna da Escola Normal Superior Tchico-Té, especialidade de Língua Portuguesa
 Paulino da Silva, professor do Liceu Regional Hô Chi Minh
 Upá Ferreira, porta-voz dos finalistas do ano lectivo 2007/2008 do Liceu Regional Hô Chi Minh
 Djaques Djompé, professor de Língua Portuguesa no Liceu Regional Hô Chi Minh
 Aeno Duarte Sampaio, professor e director do Complexo Escolar Sto. Agostinho
 Petran Jatan, finalista da 11ª Classe do Liceu Regional Hô Chi Minh
 Fabriciana Saco Nancassa, finalista da 11ª Classe do Liceu Regional Hô Chi Minh
 Cirilo Sanhá, técnico-formador da FEC a desenvolver o projecto +Escola nas Escolas Públicas de Iniciativa Comunitária de Cabienque, Pelundo, Tame e Canhobe
 Glória Castelhano, técnico-formador da FEC a desenvolver o projecto +Escola nas Escolas Públicas de Iniciativa Comunitária de Cabienque, Pelundo, Tame e Canhobe
 Alberto Cagitare Mendes, professor de francês no Liceu Regional Hô Chi Minh em Canchungo
 Vicente Maria Vaz, professor de francês no Liceu Regional Hô Chi Minh em Canchungo e Presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos do Sector de Canchungo
 Feliciano Gomes (Kuka), professor na Escola Prof. Antero Sampaio e presidente da ASA – Associação para a Solidariedade e Acção em Canchungo
 Mário Mendes, professor na Escola Prof. Antero Sampaio
 António Bedane, inspector-formador da Direcção Regional de Educação de Cacheu
 José Augusto da Silva, professor na Escola Prof. Antero Sampaio
 Simão Leitão, gestor do projecto +Escola a decorrer nas Escolas Públicas de Iniciativa Comunitária de Cabienque, Pelundo, Djita, Tame e Canhobe
 Diunisius Barbosa, professor de Alfabetização na Escola Prof. Antero Sampaio
 Galileu Fernando Gomes, presidente da Associação de Estudantes do Liceu Regional Hô Chi Minh
 Laiete Mendes, professora da Escola Pública de Iniciativa Comunitária de Cabienque
 Estevão Faustino Mendes, da COAJOQ – Cooperativa Agro-Pecuária de Jovens Quadros
 José Soares Cardoso, aluno da 11ª Classe no Liceu Regional Hô Chi Minh
 Nelson Pinto Cá, assistente social na SOS Aldeia de Crianças
 Samper Vasconcelos Mendes, professor e director do Liceu Regional Hô Chi Minh
 Lamine da Costa, professor do Liceu Regional Hô Chi Minh
 João Baptista Mendes, aluno do Liceu Regional Hô Chi Minh
 Joaquim Vicente Gomes, professor da Escola ADRA Adventista

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Diário IV


«Em absoluto contraste, o nosso destino, a Pensão Central, surge de imediato como um oásis! Um edifico dos anos 50, de três andares, com larga varanda coberta rodeando todos os andares.
E apresentam-me uma personagem que se percebe de imediato ser o espírito carismático deste espaço: a D. Berta – ou mais carinhosamente tratada como Avó Berta. Uma mulher caboverdiana, baixa, pequena, de rosto lindíssimo – de idade existência indefinida. A sala de refeições tem nas paredes diversas homenagens, onde se inclui uma foto com Pedro Pires ex-Presidente de Cabo Verde ou a condecoração do então presidente da República Portuguesa Mário Soares com a Medalha de mérito!
Durante os nossos dias de estadia nesta capital, é o nosso refúgio mais confortável e simpático. Não há água corrente e à noite a electricidade pode falhar mas as refeições são como numa casa familiar e aquela varanda de sombra é um encanto. A nossa organização tem aqui uma sala alugada de trabalho e é como se fosse a nossa sede em Bissau. Em frente está um edifício dos CTT, idêntico a tantos outros que existem pelas cidades portuguesas; é aí, e somente aí, na caixa postal 213, que chega o nosso correio!» [15.10.2006]

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Economia dissipativa


Ulrich Schiefer propôs o conceito de «economia dissipativa» para caracterizar a desestruturação do estado e da sociedade na Guiné-Bissau. É «um tipo de economia local (cujo setor moderno quase nada produz de forma independente) para a qual são canalizados recursos externos que ali são dissipados – desperdiçados, afundados, dissolvidos no nada» (Schiefer 1999).
[“Processos de Transição na África Lusófona” Johannes Augel e Peter Meyns, Soronda – Revista de Estudos Guineenses, Nova Série nº 5, Julho 2002, p. 7-50]

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Andorinha III - Componente da Língua Portuguesa


Esta rubrica tem sido mantida como a alma do programa, procurando apresentar diversos conteúdos da Língua Portuguesa, sobretudo na sua componente gramatical .
Neste sentido, desde o início do programa foram abordados os seguintes temas: elaboração de um diálogo, formas de frase (afirmativa e negativa), flexão dos substantivos (flexão de número – singular e plural, flexão de género), o artigo (noção e funcionamento), adjectivos (noção e funcionamento), os pronomes (noção e funcionamento), sílabas e acentos tónicos, os numerais, sinais de pontuação, voz activa e voz passiva, os advérbios (noção e classificação), modos de apresentação do discurso (discurso directo, discurso indirecto e discurso indirecto livre), a frase, as preposições, as conjunções, elementos fundamentais da oração, o predicado, os verbos, o sujeito, complemento directo e indirecto, conceito de literatura, figuras de estilo.
[ARRUDA, LÍGIA (2004). “Gramática de Português para estrangeiros”. Porto Editora, Porto; BORREGANA, ANTÓNIO AFONSO (2000). “Gramática Portuguesa – Língua Portuguesa”. Texto Editora, Porto, Abril de 2000; ROCHA, ANA (2006). “Gramática Elementar de Português”. Editora Replicação, Lisboa.]

domingo, 25 de outubro de 2009

Diário III


A avenida do Aeroporto à cidade proporciona a primeira impressão de Bissau, a capital. São dezenas de diferentes carros de transporte de pessoas (como gado), de táxis a carrinhas, onde apesar de cheios sempre se consegue mais um espaço para mais um passageiro, apertando aqui e ali. Milhares de pessoas povoam as margens, como vendedores ou estando em espaços de lojas, que se aglomeram ao longo desta extensa avenida. O que se vende, é um pouco de tudo; tudo o que parece existir no Mundo como produtos, aqui existe! A apresentação, disposição, é caótica, aglomerados, empilhados; transmitem aquela vitalidade de comércio que para os parâmetros ocidentais poderá ser incompreensível. E o que mais impressiona, ou salta à vista é a quantidade de edifícios, casas e pequenos prédios ou armazéns, arruinados - como que destruídos por uma guerra, que não chegou a fazer estes estragos. Será uma mistura de incúria, desleixo, pobreza, caos! [15.10.2006]

António Baticã Ferreira


António Baticã Ferreira nasceu em Canchungo (Guiné-Bissau) em 1939. Fez os estudos liceais em Paris e licenciou-se em Medicina na Universidade de Lausana- Suíça.

A FONTE

I

Eis-me perto da Fonte, muito perto.
Vejo brotar a água,
Uma água clara e límpida,
Boa, amável!

Eis a Fonte:
Fica perto de Badiopor.
Junto dela nasci:
Eis a Fonte da minha infância.

Sim, eu amo essa Fonte,
Admiro-a,
Brinco,
Eu e meus irmãos, à sua beira.

Fica, fica perto de Badiopor,
Desse lugar quase sagrado,
Desse lugar ensombrado;
Badiopor, fonte de nossas almas.

A sua água nos atrai,
E acarinha-nos.
Vemo-la noite e dia;

E a Fonte que está mais perto.

Olha: a água a brotar da nascente,
Como de fonte,
Como um regato!

(Sim, parece-se mais com um regato.)


II

Mais pequena ainda que a Fonte,
É a nascente onde tudo vem beber.
A nascente, nossos pais, amamo-la.
Nossa.

A nascente é fonte das árvores e das folhas.
Olhamos a nascente, o ribeiro,
Manancial de nossos pais.

É verdade:

Esta Fonte é mui antiga,

Nascente da Tradição,
Fonte da Historia; eis
O manancial do Reino,
Tão perto de Badiopor!

Bem me lembro:
Ha muito que ela se conserva no mesmo lugar,
Manando água cristalina.
Eis, eis a Fonte do Reino.

Ela protege-nos,
Ela é a alma das crianças;
Fonte do Reino, força nossa,
Ela é a nossa protectora.

As chaves do Reino onde estão?

Nessa Fonte,
Onde meus irmãos e eu vemos às vezes monstros
E trememos então de medo,
Ou choramos.

(Nós, filhos do Reino,
Nos, príncipes desse seu Reino.)


III

É verdade, como príncipes,
De tudo cantamos,

Nos, príncipes de Baboque
Bem amados,
Pelo sangue
Oriundos daquele Rei,

Daquele que é Rei dos Reis;
Nos que vimos do seu Reino,
De todos o mais poderoso e vasto,
Como o Reino de Baçarel.

(E Baçarel é um grande Reino,
Onde príncipes vêm a luz;
Baçarel, terra bem nobre,
Seu lugar de nascimento.)

Andorinha II - Música em Língua Portuguesa


Desde o início deste programa, toda a música a ouvir será cantada em Língua Portuguesa. Música produzida em Portugal e no Brasil, e sempre que possível de outros países da CPLP. Alguma da música de Portugal tem surpreendido porque é Hip Hop, Rap e Reggae de músicos de segunda e terceira geração de angolanos, cabo-verdianos ou guineenses com nacionalidade portuguesa (luso-africanos) e nascidos em redor de Lisboa.
 de Portugal: Amália Rodrigues, António Variações, Black Company, Black Out, Boss AC, Buraka Sound System, Carlos do Carmo, Carlos Paredes, Chullage, Contrabando, Cool Hipnoise, Da Weasel, Danças Ocultas, Dealema, Expensive Soul, Fernando Tordo, Filhos da Madrugada, Gaiteiros de Lisboa, General D, GNR, Janita Salomé, José Peixoto & Fernando Júdice, João Lóio, Jorge Palma, Kussondulola, Madredeus, Mafalda Arnauth, Maria João & Mário Laginha, Mars One, Melo D, Mercado Negro, Micro, Mind A Gap, Mundo Complexo, Mundo Secreto, Né Ladeiras, Pedro Abrunhosa, Prince Wadada, Raúl Marques & Os Amigos da Salsa, Resistência, Ruas, Rui Júnior, Sagas, Sam The Kid, Sérgio Godinho, Serial, Sr. Alfaiate, Terrakota, Valete, Variações, Xutos e Pontapés;
 do Brasil: Adriana Calcanhoto, Caetano Veloso, Chico Buarque, Chico Science & Nação Zumbi, Clara Nunes, Elis Regina, Gabriel o Pensador, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Maria Rita, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Tom Zé, Vinicius de Moraes, Virgínia Rodrigues;
 de Cabo Verde: Cesária Évora, Djuruman, Hermínia, Ildo Lobo, Travadinha, Tubarões;
 de Moçambique: Eyuphuro, Ghorwane.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Diário II


«No Aeroporto, a espera recolha de bagagens é um exercício caótico! Apenas porque o tapete rolante é pequeno e aglomeram-se todos os passageiros de um avião grande e todos trazemos muita bagagem – a nós como ONG foi-nos permitido o máximo de 50 quilos. A forte chuvada ensopou todos os sacos que não iam prevenidos enrolados em plástico – como os nossos!
Havia algumas mãos que ajudavam por ali. E depressa se descobriu que eram motoristas de táxi, que ao mesmo tempo sussurravam se não necessitávamos de táxi. [Um dos motoristas começou a meter conversa comigo – mais tarde, já na varanda da Pensão Central oiço um táxi parar na rua e apitar, azul e branco no tejadilho, como todos os táxis, e vejo o condutor acenar o braço e deitar a cabeça de fora pela janela: reconheço o taxista!]
Cá fora para se chegar com a bagagem à nossa carrinha estacionada do outro lado da estrada, procurando atravessar o tráfico de carros e os charcos de água, fomos ajudados por um enxame de miúdos atenciosos … que pedem moedas – não sei se algum de nós lhes deu.» [15.10.2006]

Citação I - Língua Portuguesa na Guiné-Bissau


«Há números que apontam para 5% da população que fala Português, no recenseamento de 1979, e outros para 10%, no recenseamento de 1991 (Scantamburlo, 1999: 62). Não há, infelizmente, estudos mais recentes sobre esse assunto, mas penso que é por demasiado evidente que a situação da Língua Portuguesa na Guiné-Bissau em nada se compara com os restantes países lusófonos africanos: é, sem dúvida, o PALOP onde se fala menos português. Basta circular pelas ruas de Bissau para nos apercebermos desta dura realidade.
Devido ao facto de ser a língua oficial, o Português é o idioma de ensino. É também a língua de produção literária, da imprensa escrita, da legislação e administração. Deparamo-nos, então, com este paradoxo: tudo está escrito em Português, mas uma parte esmagadora da população não domina a língua. As crianças são alfabetizadas numa língua que não ouvem, nem em casa nem na rua, e só quando comunicamos com a elite politica e intelectual guineense conseguimos estabelecer comunicação em Português. O grande problema da Língua Portuguesa neste país é, a meu ver, não passar da escrita para a oralidade.
(…)
Dado que a rádio é o único meio de comunicação que chega a todos os guineenses, parece-me fundamental uma aposta em programas radiofónicos que divulguem a Língua Portuguesa; em suma, uma aposta na oralidade.»
- Ana Paula Robles, Instituto Camões na Guiné-Bissau
[ROBLÉS, ANA PAULA (2006). O ensino da Língua Portuguesa no ensino superior: a situação da Guiné-Bissau. Ubuntu, nº 3, Dezembro 2006, Bissau, p. 21-24.]

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Diário I


De 15 de Outubro de 2006 a 13 de Agosto de 2007 redigi cartas tipo diário para enviar a familiares e amigos da minha vivência como técnico-formador-voluntário em Canchungo, na Guiné-Bissau. Revelam as primeiras impressões imediatas de quem chega do Norte da Europa (de Kiel, na Alemanha) para um recanto na África Ocidental – embora com o Tempo possa agora notar algumas incongruências, no global poderão ter algum interesse. Boa leitura...
«Do avião, depois de sobrevoarmos milhares de quilómetros de terra árida, deserto, voamos ocultos nas nuvens. Ao descermos, de repente, revela-se a terra da Guiné-Bissau: em contraste, o verde e o barro. Verde verde verde. Os campos alagados serão de arroz. Os arbustos, ou pequenas árvores, plantados em linha, como vinhedos planos, serão cajueiros. Muitas árvores espaçadas e algumas pequenas palmeiras. Caminhos e estradas alagadas, de águas barrentas. Os cursos de água, rios, correm fortes. Os telhados das casas são quadrados e grandes, amplos, de colmo – alguns de zinco, brilham quando vistos desta altura do avião. É o final da época das chuvas e esta Natureza está pujante de vida, verde verde verde.» [15.10.2006]

Andorinha - Uler A Baand


O programa Andorinha teve a primeira emissão a 24 de Abril de 2008 na Rádio Comunitária Uler A Baand em Canchungo e desde então mantém uma periodicidade semanal, todas as quintas-feiras, entre as 20.3h e 21.3h na frequência de 103 MHz.
A iniciativa surgiu no âmbito da abertura desta rádio comunitária a colaborações externas, nomeadamente a programas na área do desporto, saúde, nutrição, humor. O programa Andorinha foi uma iniciativa de Marcolino Elias Vasconcelos, professor – sobretudo de Língua Portuguesa – no Liceu Regional Hô Chi Minh, e António Alberto Alves, sociólogo e técnico-formador-voluntário numa ong portuguesa.
Desde o início que o objectivo e estrutura de foram os seguintes – dos quais passamos a realizar um historial descritivo:

Objectivo do programa:
Promoção da Língua Portuguesa e da Cultura em Língua Portuguesa

Grupo-alvo:
- Professores e alunos de Língua Portuguesa
- Pessoas interessadas na Língua Portuguesa e na Cultura em Língua Portuguesa

Apresentação da estrutura do programa
- Música em Língua Portuguesa
- Componente da Língua Portuguesa
- Pequenas entrevista / depoimentos gravados
- A cultura em Língua Portuguesa: poesia, texto, conto, provérbio, adivinha
- Linha aberta com os ouvintes, segundo questões ou temas

Andorinha – porquê
Andorinha porque se trata de uma ave migratória, existe cá e lá, e pretende simbolizar e homenagear o carácter migrante dos portugueses e mandjakos (e de outras etnias) e a rota de solidariedade e intercâmbio que se pretende montar, entre cá e lá, através da promoção da Língua Portuguesa e da cultura em Língua Portuguesa.

Região de Cacheu - Guiné-Bissau


Como muitos de vocês conhecem, a Guiné-Bissau é um pequeno país situado na costa ocidental africana, à beira do Atlântico Norte, entre o Senegal (a Norte) e a Guiné-Conakry (a Sul). Cobre uma área de 36.135 quilómetros quadrados. A população ronda o milhão de habitantes e é composta por cerca de 16 diferentes grupos étnicos. É considerado um dos mais pobres países de Mundo, classificando-se em 172º entre 177 países, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (PNUD, 2005), sendo que 88% da população dispõe de menos de um dólar [0,74 euros] por dia, vivendo abaixo da linha de pobreza de pobreza absoluta*.
A Região de Cacheu, contudo, situada na zona litoral norte, cujas rias e marés, lhe conferem uma fisiografia característica, profunda e caprichosa recortada, é uma zona de grande potencial agrícola e de natural biodiversidade. O arroz, por exemplo, encontra condições de excelência para o seu cultivo nos ricos aluviões marinhos que constituem as bolanhas que marginam as rias**. Por outro lado, a constituição do Parque Natural dos Tarrafes do Rio Cacheu, vem reconhecer a importância ecológica do mangal, que representa a mais importante área da África Ocidental, apresentado enormes vantagens comparativas que convém investigar e valorizar***.
Na Região de Cacheu, constituída por seis sectores administrativos, habitam diversas etnias (Felupes, Mancanhas, Papéis, Balantas e outros) e, sobretudo a sul do rio Cacheu, vive uma maioria de povo Manjaco e são comummente Animistas, com uma minoria significativa de Católicos e uma pequena minoria de Muculmanos. Os manjacos são um povo emigrante, escolhendo essencialmente destinos próximos como Senegal e Gâmbia e, em alternativa, têm uma significativa presença em Portugal, Espanha e França. Como emigrantes mantêm uma forte ligação com a sua região e respectivas tabanka (aldeias), sendo importantíssimo as remessas das economias para as suas famílias – similar a grande parte das regiões do interior de Portugal!

[*Brito, Brígida Rocha (2006), «Estudo Socioeconómico e Diagnóstico para Acompanhamento das Condições de Bem-Estar das Famílias da Região de Cacheu», Instituto Marquês de Valle Flôr | Acção para o Desenvolvimento, Portugal | Guiné-Bissau.]
[**Mendes, José Luís Morais Ferreira (1969), “Problemas e Perspectivas do Desenvolvimento Rural da Guiné”, Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, Volume XXIV, nº 94, Abril 1969, (245-284), 52 p.]
[***Silva, Aristides Ocante da (2002), “Dimensão Ecológica e Socioeconómica das Zonas Húmidas na Guiné-Bissau”, Soronda – Revista de Estudos Guineenses, Nova Série nº 3, Janeiro 2002, p. 51-76]

Andorinha


Andorinha é um programa de promoção de Língua Portuguesa e da Cultura em Língua Portuguesa na Rádio Comunitária Uler A Baand em Canchungo para a Região de Cacheu.
Andorinha será o testemunho de um voluntário português no tchon de Canchungo com olhares sobre a Região de Cacheu.
Andorinha divulgará a Escola e a Educação, a Biblioteca e o Livro da Região de Cacheu.
Andorinha apresentará etnias existentes na Região de Cacheu, nomeadamente a mandjaka a sul do rio Cacheu.
Andorinha publicará resenhas e excertos de obras sobre a Região de Cacheu, publicadas na Guiné-Bissau e em Portugal – ou de qualquer outra proveniência.
Andorinha pretende ainda ser um ninho de comunicação e notícias da Região de Cacheu para o Mundo – incluindo os Filhos em Portugal, Espanha, França e Inglaterra.
Venham daí!