«Que o teu filho viva amanhã no mundo dos teus sonhos»
Amílcar Cabral, Outubro de 1944

postal

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Canchungo I


«Entramos em Canchungo. Acho que já me habituei a esta imagem de destruição e, talvez por isso, comparativamente, me parece a localidade mais agradável de todas as que fui conhecendo.
Há uma rotunda, que distribui o traçado das outras ruas; o piso é de terra batida e ainda não tendo terminado a época das chuvas, há inúmeras covas cheias de água barrenta. A nossa rua é uma avenida, larga, a terra batida e os respectivos charcos de água da chuva, com passeio a meio e uma dúzia de postes de iluminação … que há muitos anos se quedam inúteis sem electricidade – não há qualquer distribuição de electricidade pública, em qualquer das outras chamadas cidades, incluindo Bissau; todas as casas que têm o luxo de terem electricidade à noite, é porque possuem um gerador que funciona a diesel e faz um matraquear característico por aqui à noite!
Salta à vista sempre aquele ambiente de muita gente nas ruas, por todo o lado, homens e mulheres, e sobretudo muitos jovens e crianças.

Parte da Avenida é um mercado todos os dias, incluindo os domingos, desde a manhã até escurecer. Existem pequenos stands de venda e em algumas casas há pequenas mercearias. Há de tudo um pouco em oferta e alguns stands ou lojas são um pouco mais especializados, como os que vendem chinelos e outro calçado leve, ou malas de viagem, ou uma grande variedade de artigos de plástico, ou redes de pesca, ou fechaduras de porta. Continuo a sentir aquele sentido de comércio: cada um tem um pouco de qualquer coisa, um pouco de amendoim, algumas beringelas, que trás e expõem, por vezes apenas no chão do que resta dos passeios, e vende.
Na primeira ida às compras, entrei numa mercearia e é o suficiente para perceber que não entendem o português. Como não sei o crioulo, procuro outras formas de me fazer entender. O homem fica pouco à vontade mas lá nos entendemos. E no final, depois de pagar, tem o gesto de ir buscar dois rebuçados que oferece com um largo sorriso! – fica na memória.» [26.10.2006]

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