«Que o teu filho viva amanhã no mundo dos teus sonhos»
Amílcar Cabral, Outubro de 1944

postal

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Canchungo IV


«Também é difícil encontrar palavras para expressar descrever como é o calor! Sempre se ouve dizer que o nosso corpo é constituído maioritariamente por água mas nos primeiros dias cheguei a assustar-me por o meu corpo se esvair em água suor! Por mais que beba água fico sempre com a sensação que durante o dia sai muita mais água do corpo do que entra! Temo uma desidratação!
Como explicar: não é aquele calor que queima ou que só é quente quando se está ao sol; não, é um calor que está sempre presente, em todo o lado, em qualquer situação, de manhã à noite, mesmo quando se dorme! Qualquer gesto que se faça ou mesmo que se esteja imóvel, está-se a suar! Ter a t-shirt ensopada e até mesmo a perna das calças, suar da testa em bica, sentir os pêlos dos braços encharcados, passou a ser o mais normal do dia-a-dia!

Tive a oportunidade de utilizar os transportes públicos e colectivos locais - as denominadas candongas.
Existem três modalidades. As seteplace, que são aquelas carrinhas tipo van de cinco lugares, a cujo espaço de bagageira foi acrescentado outro banco para haver mais lugares – são as de tarifa mais cara, mais rápidos, (dizem) mais confortáveis e mais raras. Depois existem carrinhas fechadas, que vão das Hiace a outras maiores. Por fim, as carrinhas de caixa aberta, cobertas por um tolde e abertas dos lados – são as mais baratas e as mais vulgares abundantes; na época das chuvas ou do verão com a poeira, são as mais desconfortáveis.
Comum a todas estas modalidades é o aproveitamento do espaço de modo a conseguirem ter o máximo de lugares sentados, o que é conseguido pela utilização de bancos corridos. Todos estes transportes só partem quando todos os lugares forem ocupados, ou seja, quando encheu completamente, e isto significa irmos todos ombro a ombro bem aconchegados. O que se revela um modo de viajar confortável, adequado e adaptado a estes percursos acidentados de buracos e sacudidelas, porque nos amparamos uns aos outros. Misturam-se homens e mulheres, jovens e adolescentes, crianças e bebés, algumas mercadorias e animais (já viajei com galinhas e cabritos), e gera-se um bom convívio – há pessoas que se apresentam e metem conversa comigo com natural e espontânea simpatia.» [26.10.2006]

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