«Que o teu filho viva amanhã no mundo dos teus sonhos»
Amílcar Cabral, Outubro de 1944

postal

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Canchungo III


«O que as palavras não conseguem pintar é o colorido das pessoas, resultante de uma mistura de etnias, com os respectivos modos de ser e de estar. Canchungo, assim como a Região de Cacheu, a que pertence, é de maioria manjaco – caracterizam-se por serem os mais escuros dos negros. Mas, tal como acontece por toda a Guiné-Bissau, em Canchungo e Cacheu misturam-se as mais diversas etnias, das muitas que constituem a Guiné-Bissau e regiões de países limítrofes, numa tolerância e convivência louvável – sobretudo se pensarmos ao quanto esta falta de tolerância e sã convivência tem provocado guerras e genocídios em países próximos e, não esquecer, na Europa Central. É o respectivo modo de trajar diferente que provoca este colorido pelas ruas e mercados.
O mesmo se passa em relação à religião, que se mistura e convive por todo o lado. Os manjacos repartem-se por serem animistas ou muçulmanos, existindo igualmente uma minoria cristã – que se distribuem por serem católicos, adventistas, evangélicos. É assim que na Avenida fica a igreja católica e na rua atrás de nossa residência fica a mesquita – cinco vezes por dia, a iniciar-se às cinco da manhã, ouvimos o imã cantar a oração; quando chegamos à Guiné-Bissau, teve início o Ramadão, em que durante a luz do dia têm de jejuar, e agora passado um mês está a terminar. Todas as outras igrejas presentes têm o seu espaço de culto e oração, e respectivos pastores e actividades.

Enquanto as aulas não começam e para minha integração ambientação, realizamos visitas às Escolas e respectivas tabankas, onde irá decorrer o nosso trabalho para este ano lectivo. Foi assim que já tive o primeiro impacto visual com Calequisse, Pelundo (onde curiosamente um dos edifícios sala da escola ocupa uma antiga igreja portuguesa porque deixou de ter o respectivo padre), Cabienque, Tame, Canhobe e Caió. Em todas as visitas fomos acompanhados por um elemento da associação que federa as associações da Região, que são o nosso principal parceiro local de projecto, e por alguns dos directores de Escola. Em todas as aldeias registei muita curiosidade no olhar das gentes.» [26.10.2006]

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