«Que o teu filho viva amanhã no mundo dos teus sonhos»
Amílcar Cabral, Outubro de 1944

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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Centro de Desenvolvimento Educativo


Na cidade de Canchungo (Região de Cacheu), surgiu a necessidade, por ausência de estrutura disponível, de se implementar um Centro de Desenvolvimento Educativo em parceria com a comunidade local. Com efeito, professores, directores de escolas, formadores, bibliotecários e associações, têm manifestado a necessidade de se criar um espaço para pesquisa e leitura de forma a colmatar as carências identificadas, tendo em conta que o acesso a material de leitura e consulta técnica nos diversos domínios é extremamente limitado, sendo a publicação e importação de livros praticamente inexistente. De realçar a importância e a potencialidade deste centro na dinamização de diversas actividades de animação sócio culturais direccionadas para os diferentes grupos da comunidade, gerando por si actividades formativas potenciadoras de enriquecimento pessoal e profissional das comunidades onde estão inseridos.

Este CDE a ser instalado em Canchungo teria como objectivos específicos:
• Criar um espaço apetrechado com materiais de leitura e consulta aberto aos diferentes agentes educativos e á comunidade em que está inserido;
• Instalar um centro de recursos destinado especificamente à autoformação de professores, directores, formadores e educadores, contendo bibliografia e materiais para este fim;
• Instalar uma sala apetrechada com computadores que possibilite não só a utilização pelos agentes educativos, mas também que possibilite a realização de cursos de informática abertos à comunidade;
• Promover actividades de animação sócio-culturais de carácter formativo;
• Servir de estrutura de apoio às diferentes associações e ong’s locais assim como outras estruturas ligadas à educação.

Para a concretização deste objectivo iniciou-se em 2004 um processo de discussão/análise com a colaboração de diversos representantes da sociedade civil e instituições de Canchungo. Deste grupo de trabalho surgiu como potencial localização a Escola 1 de Junho (antiga estrutura apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian em 1966) situada estrategicamente no centro da cidade como o espaço ideal para a criação de um Centro de Desenvolvimento Educativo.
De reuniões tidas com o Ministério da Educação Nacional surgiu a disponibilização, por parte deste, de ceder o espaço para ser reabilitado e posteriormente utilizado. Foi realizado um orçamento de reabilitação/apetrechamento deste espaço e iniciaram-se diversos processos de angariação de fundos, no entanto os montantes necessários para a sua reabilitação, devido ao avançado estado de degradação física, revelaram-se bastante elevados o que de certa forma tem contribuído para a falta de avanços obtidos no prossecução dos objectivos.

Como alternativa para a implementação do CDE foi analisado ao longo de 2007 a possibilidade de se optar por uma construção de raiz o que permite não só pensar o espaço á medida do que seria mais indicado, como também resultaria num orçamento menor aumentando também as possibilidades de obter financiamento para a sua construção. Foi apresentada esta necessidade ao Comité de Estado de Canchungo que mostrou disponibilidade em colaborar nomeadamente através da cedência de um terreno para a realização da obra, paralelamente foi realizado um projecto e o respectivo orçamento da obra, o que permite podermos estabelecer um ponto de situação relativamente aos apoios concedidos até ao momento para a implementação deste projecto.
Ficou acordado entre os parceiros que a gestão do processo de construção será feita por um comité de gestão constituído por um representante do Comité de Estado, um representante da Action Aid, um representante da Direcção Regional de Educação (DRE) de Canchungo, um representante da Fundação Evangelização e Culturas (FEC) e um representante da CONGAI – Confederação das Organizações não Governamentais e Associações Intervenientes ao Sul do Rio Cacheu. Entretanto, foi decido abrir o CDE num espaço provisório, com o principal objectivo de se dar os primeiros passos que possam consolidar esta iniciativa.

O CDE provisório foi aberto a 1 de Setembro de 2008 e atribuída a sua gestão à CONGAI – com o apoio financeiro por seis meses da Action Aid, permitindo cobrir as despesas do seu arranque. O espaço tem uma localização central na cidade de Canchungo, sobretudo próximo de diversos estabelecimentos de ensino, com uma sala de biblioteca – equipada com fotocopiadora, vídeo e televisor – e uma pequena sala de informática com seis computadores disponíveis – mais um para uso da bibliotecária.
A bibliotecária foi colocada pela Direcção Regional de Educação de Cacheu e neste momento tem o estatuto de professora contratada. Embora possua formação de bibliotecária no âmbito de projectos apoiados pela UNICEF na Guiné-Bissau, as suas competências cingiam-se à catalogação e classificação bibliográfica. De imediato foi solicitado apoio ao professor Augusto da Silva, bibliotecário-formador do PAEIGB – Projecto de Apoio à Educação no Interior da Guiné-Bissau realizado pela FEC, para conceber e realizar uma formação complementar. Em conjunto com a bibliotecária, seleccionaram as seguintes áreas: perfil e funções do bibliotecário, planificação e divulgação de actividades, técnicas de animação, ligação à comunidade e escolas – duas sessões foram já realizadas. Complementarmente, foi pago à bibliotecária a frequência de um curso de iniciação à Informática no CENFA local – o que concluiu com êxito!

O CDE tem a sua aposta na complementaridade das suas valências e serviços prestados. A biblioteca conta com cerca de quatro centenas de títulos, essencialmente na área da Educação – com um generosa oferta de dicionários em Língua Portuguesa.
A aposta no horário à noite com electricidade, permitindo o único espaço de estudo à noite na cidade, e com abertura ao sábado, para permitir o seu uso por professores das tabankas em redor – como foi solicitado pelos próprios, aquando da visita dos 46 professores de Cabienque, Pelundo, Djita, Tame e Canhobe do projecto +Escola.
A sala de informática aquando da abertura era única na cidade. Entretanto, abriram mais três locais com computadores, onde apenas se pode aceder pagando o curso. Este espaço continua a ser o único aberto ao público para utilização – para treino e consolidação destes cursos!
A oferta do serviço de fotocopiadora, com descontos para alunos e professores, fez baixar o preço exorbitante praticado na cidade!

A avaliação de seis meses de funcionamento é globalmente positiva. Com efeito, regista-se uma frequência significativa, quer no período da manhã, por jovens estudantes de diferentes escolas locais – com t.p.c. de pesquisa –, quer no período da noite – também para uso de computadores ou da fotocopiadora. Esta frequência ganhou novo fôlego com o apoio da Cooperação Portuguesa de fazer chegar – através da FEC – diversas publicações da imprensa, quer revistas e jornais de Portugal, quer jornais da Guiné-Bissau.
Neste momento, ainda não se atingiu uma sustentabilidade financeira, mas pelo menos está atingir uma receita em termos de comparticipação significativa. Sobretudo é importante que o objectivo da auto-sustentabilidade financeira esteja consolidado entre os parceiros que sustentam este projecto – bem como na própria bibliotecária no desempenho das suas funções. Há a consciência de que este objectivo poderá ser atingido a médio prazo, com a tendência de aumento de utentes, e sobretudo nas condições de oferta que se projectam para o espaço definitivo, nomeadamente com o acesso a Internet – pelo que é um objectivo prioritário e urgente a sua construção.

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