«Que o teu filho viva amanhã no mundo dos teus sonhos»
Amílcar Cabral, Outubro de 1944

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terça-feira, 24 de novembro de 2009

Diário X


«Bissau é uma cidade capital de contrastes: onde convive a pobreza e a opulência. A pobreza e indigência da maior parte da população citadina, que procura vender de tudo um pouco; assediando qualquer branco ou forasteiro, insistentemente oferecendo isso e aquilo – é incómodo este assédio. Opulência de alguns guineenses, que deverão ser políticos, polícias ou militares, e que se passeiam com carros novos e caros, de preferência jipes. A opulência que mais incomoda é a das ONG’s, com os seus jipes e carrinhas todo-o-terreno, últimos modelos, com ar condicionado; Bissau é um mostruário de inúmeras instituições e ong’s, do Banco Mundial aos vários organismos da ONU – Fao, Unicef, UnVolunteers.
Dos políticos fala-se da corrupção e das ausências do presidente Nino Vieira, que se diz estar quase sempre ausente do país – também por medo e insegurança. No dia feriado de comemoração do 33º aniversário da independência, da varanda da Pensão Central vi passar o carro presidencial, que é um jipe enorme e blindado, rodeado por uma forte escolta de diferentes militares e diferentes polícias, com metralhadoras e diverso armamento pesado – o suficiente para se perceber que não é um presidente que se aproxima do seu povo.
Para um país pequeno, com pouco mais do que milhão e meio de habitantes, é desproporcionado o número de militares – que afinal não estão presentes apenas na capital mas em todas as cidades existem quartéis e militares. São como uma classe à parte e superior à restante população, uma vez que fazem questão de ostentar os seus privilégios – como o de passarem à frente em qualquer serviço ou transporte. [Neste momento, enquanto a maior parte dos funcionários do Estado, onde se incluem os professores, têm os seu salários em atraso, isso não acontece a qualquer dos militares]» [15.10.2006]

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